Título: Papa: casamento gay e aborto são ameaças
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Fonte: O Globo, 14/05/2010, O Mundo, p. 35
Em Portugal, Pontífice deixa para trás escândalos de pedofilia na Igreja e volta a reforçar dogmas da religião
BENTO XVI em missa para meio milhão de pessoas: Vaticano afirma que casos de abuso sexual na Igreja não afetam a popularidade do Pontífice nem prejudicam a sua imagem
FÁTIMA, Portugal. Após realizar uma missa diante de meio milhão de pessoas em Fátima, Portugal, o Papa Bento XVI considerou ontem o aborto e o casamento entre pessoas de mesmo sexo entre as mais ¿insidiosas e perigosas¿ ameaças do mundo atual. Tentando deixar para trás os recentes escândalos na Igreja Católica, ele proclamou os ensinamentos da Bíblia. O Vaticano, por sua vez, afirmou que o sucesso das últimas viagens do Papa demonstra que os casos de abuso sexual envolvendo sacerdotes católicos em diversos países não afetaram a popularidade do Pontífice nem danificaram a sua imagem.
Em meio ao recente debate público sobre as leis que permitem o casamento gay e o aborto em Portugal, o Papa retomou a defesa da vida e da família tradicional, durante um encontro com as organizações da Pastoral Social na Igreja da Santíssima Trindade de Fátima.
¿ É urgente o compromisso dos cristãos na defesa dos direitos humanos, atentos à totalidade da pessoa humana nas suas diversas dimensões ¿ declarou Bento XVI, defendendo ainda a sua ¿profunda apreciação a todas aquelas iniciativas sociais e pastorais que buscam lutar contra os mecanismos socioeconômicos e culturais que levam ao aborto¿.
Casamento gay necessita só de assinatura do presidente
Bento XVI foi ovacionado pelo público quando se referiu ao aborto ¿ a prática se tornou legal em Portugal após um referendo em 2007. Em janeiro, o Parlamento português aprovou uma lei proposta pelo primeiro-ministro José Sócrates que legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Atualmente, a lei necessita apenas da assinatura do presidente, Aníbal Cavaco Silva, que sofre pressão por parte da Igreja e de grupos conservadores para não promulgá-la. Em Portugal, os católicos formam 90% da população.
Em uma mensagem enviada ontem aos participantes de um evento ecumênico realizado na Alemanha e promovido por igrejas protestantes, com forte participação da Igreja Católica, Bento XVI não fez alusões diretas aos casos de pedofilia, mas afirmou que a instituição católica continua sendo um ¿lugar de esperança¿, apesar do ¿joio que existe em meio à Igreja e entre aqueles que o Senhor de modo particular chamou a seu serviço¿. O Pontífice, no entanto, afirmou que ao ¿joio¿ se contrapõe um ¿trigo bom¿ que ¿não foi sufocado pela semente do mal¿.
À tarde, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirmou que a popularidade de Bento XVI não foi afetada pelos recentes escândalos de pedofilia dentro da Igreja. Segundo ele, a boa acolhida em Portugal não foi uma surpresa.
¿ Para o povo cristão, as viagens do Papa são sempre ocasião para uma grande mobilização. Isto para nós é normal ¿ assinalou ele, completando: ¿ O que aconteceu nos últimos meses, com os problemas do escândalo dos abusos, podia fazer pensar que obscureceria a vitalidade, a atenção nas lutas do Pontífice. Mas isto não aconteceu: esta vitalidade não está em crise pelas discussões dos meses passados, e o fato de que a força da fé se manifeste de modo tão evidente é muito encorajante.
Bento XVI também visitou ontem o túmulo dos três pastorinhos de Fátima, que, segundo a tradição, teriam testemunhado as aparições de Nossa Senhora em 1917. O Pontífice orou ajoelhado diante dos túmulos, que ficam no interior da Basílica de Nossa Senhora do Rosário.
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