Título: EUA desestimulam negócios com o Irã
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 14/05/2010, O Mundo, p. 34

Subsecretário do Tesouro visita países para persuadir empresas sobre os riscos que correm

WASHINGTON. Às vésperas do desembarque do presidente Lula em Teerã, os EUA agem para persuadir empresas estrangeiras do risco de fazer negócios com o Irã. Nos bastidores, o subsecretário do Tesouro para Terrorismo e Inteligência, Stuart Levey, tem visitado vários países para conversas com integrantes de governos, bancos e empresários, num programa paralelo à pressão para adoção de sanções na ONU.

- Nós vemos a comunidade de negócios como aliada e conversamos com ela nesse sentido. Temos informações sobre condutas ilegais iranianas, as transmitimos, com o nosso ponto de vista, e assim eles podem ter uma avaliação de seus próprios riscos - disse Levy.

O subsecretário faz questão de rebater as acusações de que os EUA estariam acenando com eventuais punições àqueles que não seguirem seus conselhos:

- Alguns pensam que é um melhor cenário dizer que torcemos os braços das pessoas, mas não é o que fazemos.

Empresas de fachada da Guarda Revolucionária

No ano passado, os bancos Lloyds TSB e Crédit Suisse foram obrigados a desembolsar gordas quantias por violarem as regras americanas de sanções ao Irã. Em janeiro, a renúncia da alemã Siemens a aceitar encomendas de Teerã teria sido provocada por pressão dos EUA.

Para William Reinsch, presidente do Conselho Nacional do Comércio Exterior, o esforço do governo americano tem tido resultados significativos:

- Várias empresas já anunciaram que deixaram o país ou não fazem mais negócios com o Irã. Um número significativo de bancos, particularmente os maiores, nada anunciaram, mas discretamente pararam de financiar transações com o Irã.

Segundo os EUA, no entanto, há provas de que a Guarda Revolucionária iraniana esteja montando empresas de fachada para tentar escapar ao efeito de possíveis novas sanções. Para William Reinsch, trata-se de um jogo de "gato e rato", bem administrado por Teerã:

- Você tenta descobrir que empresas de fachada são essas e, uma vez listadas, os iranianos criam outras novas.

Segundo ele, o mais difícil para o Irã é achar alternativas para substituir os grandes bancos e seus financiamentos:

- É fácil criar uma nova empresa de fachada, mas não um banco altamente capitalizado.

Nascido no Irã, Hossein Askari, professor do Departamento de Comércio Internacional da Universidade George Washington, diz que a iniciativa americana é apenas mais um fator na balança no embate das sanções econômicas.

- Já existe um risco alto, hoje, em negociar com o Irã - sustentou.

Segundo ele, a viagem de Lula a Teerã é uma armadilha:

- O Brasil é um dos países que contam hoje, e Lula possui uma enorme credibilidade global. O Irã quer usar isso para obter o apoio de outros países não alinhados.