Título: Para empresas brasileiras, um contrato de risco
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 14/05/2010, O Mundo, p. 34

Entraves ao aumento do comércio com o Irã vão das ameaças de sanções a falta de garantias e impostos altos

BRASÍLIA. Os obstáculos ao fortalecimento das relações entre Brasil e Irã vão além das pressões que as autoridades americanas têm exercido sobre companhias estrangeiras que têm negócios nos Estados Unidos, incluindo as brasileiras, como a Petrobras. A avaliação do governo e do setor privado brasileiros é que a ampliação do comércio bilateral, que no ano passado somou pouco mais de US$1,2 bilhão, esbarra em entraves que vão desde riscos de guerra e sanções econômicas a serem aplicadas pelas potências ocidentais ao país persa, até a forte concorrência da China na região, a falta de garantias de pagamento e as elevadas alíquotas de importação impostas por Teerã, entre 20% e 30%.

- Quem vai querer investir em um país que pode sofrer sanções? - perguntou um graduado diplomata brasileiro.

Várias firmas brasileiras estão deixando de vender para o Irã. Um documento reservado do governo mostra que, em 2009, 475 empresas exportaram ao Irã, 65 empresas a menos do que em 2008 (410 empresas). Do lado da importação, 60 compraram produtos daquele país, 13 a menos que em 2008 (73).

Pressão dos EUA teria levado Petrobras a fechar escritório

A expectativa dos empresários brasileiros interessados em fazer negócios com os persas é que, durante o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Mahmoud Ahmadinejad, previsto para o próximo domingo, os iranianos ofereçam compensações ao apoio do Brasil ao país, ameaçado de sanções por causa de sua política nuclear. A abertura daquele mercado aos produtos exportados pelo Brasil e maior segurança nas operações de comércio exterior são exemplos de gestos esperados do presidente Ahmadinejad.

- Estamos todos com grande expectativa em relação à visita do presidente Lula ao Irã - afirmou o empresário do setor de energia, Vinícius Poit.

- O presidente Lula assinará vários acordos com o Irã. Esperamos algo na área de tarifas ou em algum mecanismo que possa garantir as operações - reforçou Roberto Nóbrega, do setor de medicamentos.

Apesar das dificuldades, o empresário Paulo Amanthea, do segmento de placas e painéis de madeira, afirma que as perspectivas em relação ao ingresso de seus produtos são positivas. Embora a empresa para a qual trabalha tenha negócios nos Estados Unidos, não há pressões que o impeçam de tentar conquistar o mercado iraniano.

- Ninguém aceita carta de crédito do Irã. Além disso, se os iranianos quiserem realmente negociar com o Brasil, precisam baixar os impostos - disse ele.

Se há alguma perspectiva para o comércio, o mesmo não se pode dizer quando o assunto é investimento. A Petrobras, uma das poucas empresas que chegaram a investir no país, fechou o escritório em Teerã e encerrou as suas atividades no sul do Irã. Segundo um integrante do governo brasileiro, o motivo foram as pressões dos americanos.

No caso das ameaças veladas que partem de Washington, a situação tende a se agravar ainda mais. Isto porque surgem no Congresso americano novos projetos que ampliam as punições não apenas a petrolíferas, como era inicialmente, mas a empresas de todos os setores que se aventurarem a comercializar com o Irã.

Um fato novo que foi confirmado ontem é que o presidente Lula decidiu atender aos apelos do Irã e vai participar da reunião do G-15, formado por países em desenvolvimento, em Teerã, na segunda-feira. Ele fará um discurso com foco na paz e no desenvolvimento.