Título: Marina associa PT e PSDB a atraso ambiental
Autor: Lima, Ludmilla de ; Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 17/05/2010, O País, p. 3

Verde lança candidatura e apresenta empresário Guilherme Leal como vice

De um lado, a velha e defasada política desenvolvimentista, associada ao tucano José Serra e à petista Dilma Rousseff. Do outro, a visão moderna, defendida pelos verdes e sintonizada com a economia sustentável que avança pelo planeta. Foi assim que Marina Silva se apresentou ontem ao eleitorado na festa de lançamento de sua pré-candidatura, na casa de shows RioSampa, em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense.

No evento - que confirmou o nome do empresário Guilherme Leal, dono da Natura, como pré-candidato a vice-presidente em sua chapa - Marina abandonou o habitual tom diplomático de seu discurso para marcar a diferença dos verdes frente aos candidatos de PT e PSDB:

- As duas candidaturas são muito parecidas: estão discutindo desenvolvimento pelo desenvolvimento, velho paradigma do século XX, quando o mundo inteiro está mudando: a China, o Obama, que está fazendo um investimento muito grande na economia de baixo carbono. E o Brasil ainda está fazendo o discurso do século XX.

Gil anuncia seu apoio em letra de música

Em sua primeira aparição pública ao lado da pré-candidata, o cantor e compositor Gilberto Gil, ex-ministro da Cultura do governo Lula (2003-2008), reforçou as críticas de Marina. Depois de levantar o público ao cantar "Andar com fé" fazendo uma leve mudança na letra ("Andá com Marina eu vou, que a fé não costuma faiá"), Gil disse que os verdes levam o debate para novos patamares:

- A candidatura da Marina desloca muitas coisas para além do desenvolvimentismo clássico, ao qual vários partidos, o PT e o PSDB, inclusive, estão atados.

Apesar dos elogios ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do mesmo PSDB que deverá unir-se aos verdes no Rio, Marina disse temer que a visão desenvolvimentista dos petistas - "o PT não se conectou ao século XXI" - e tucanos custe caro ao país futuramente.

A exemplo de Lula, a pré-candidata apelou até para uma metáfora de futebol para criticar a estagnação nacional, enquanto o mundo estaria elaborando um novo pensamento para os velhos problemas em relação à destruição ambiental:

- Daqui a pouco, o carbono vai estar "precificado", vamos ter barreiras tarifárias e um monte de consequências. Continuamos olhando para onde a bola está e não para onde ela vai estar.

Ecologia até no uso da própria voz

Marina, que começou o discurso anunciando que faria o "manejo sustentável da voz", devido a um final de gripe, não poupou a garganta. Seu discurso, que durou mais de uma hora, abusou da linguagem ecológica e voltou ao ataque quando citou a postura de petistas no episódio da frustrada candidatura de Ciro Gomes à sucessão pelo PSB. Após lamentar a "operação de guerra" montada para impedir o lançamento, ela explicou, em entrevista coletiva, as razões da crítica:

- Democracia tem valor incalculável. É alternância do poder. A movimentação no sentido de diminuir a possibilidade das escolhas no primeiro turno é uma incoerência com a democracia.

O evento na RioSampa reuniu, além de Marina e seu candidato a vice, Guilherme Leal, os candidatos do PV aos governos de São Paulo, Fábio Feldmann; Pernambuco, Sérgio Xavier; e Rio, Fernando Gabeira; além do poeta Thiago de Mello e da cantora Adriana Calcanhoto, que improvisou, a pedidos, a música "Cariocas". A organização estimou em três mil o número de presentes, mas os vazios em alguns setores da casa de shows indicavam que o comparecimento era de um terço desse número.

Ao longo do evento - monitorado por três fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) -, a militância foi deixando o RioSampa. No último discurso de Marina, restavam poucas pessoas na casa de shows. As filhas da pré-candidata, Mayara e Moara, estiveram presentes.