Título: Tuma Jr. será alvo de inquérito da PF
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 14/05/2010, O País, p. 12

Planalto considera insustentável a permanência de secretário no cargo

BRASÍLIA. A Polícia Federal deve abrir na próxima semana inquérito para investigar o suposto envolvimento do secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, com o chinês Li Kwon Kwen, o Paulo Li, acusado de contrabando de celulares, entre outros crimes. Mas a situação do secretário pode se complicar a partir de um dos inquéritos já abertos com base na Operação Wei Jin. Na investigação, mantida em sigilo até o momento, a polícia descobriu fortes indícios de fraudes em processos de regularização de chineses clandestinos no Brasil.

Pela versão oficial, Tuma Júnior entrou de férias por 30 dias para se defender das acusações. Mas, pela decisão do Ministério da Justiça e do Planalto, ele não volta ao cargo. O governo considera que a proximidade com Paulo Li tornou insustentável a permanência, na Secretaria Nacional de Justiça, de Tuma, alvo de investigação em três frentes: inquérito a ser aberto na PF, investigação interna da Controladoria-Geral da União e na Comissão de Ética.

Documento falso facilitou legalização de chineses

Os problemas de Tuma começaram com a divulgação de trechos de diálogos entre ele e Paulo Li interceptadas pela polícia durante a Operação Wei Jin. Nos diálogos, os dois falam sobre preços de telefone celular, videogame e até sobre uma mala. Em outro inquérito aberto para apurar tráfico humano, a PF descobriu indícios de fraudes em processos de naturalização de chineses. As investigações mostraram que um dos filhos de Paulo Li, um terapeuta, assinou laudos falsos para atestar a presença de chineses clandestinos no Brasil antes do prazo limite estabelecido pela Lei de Anistia a Estrangeiros. Os documentos teriam facilitado a legalização de pessoas em situação irregular.

A investigação mostrou ainda que eram frequentes os contatos entre Tuma Júnior e Paulo Li. A proximidade entre os dois foi realçada após a revelação de que Li acompanhou o secretário à China, em fevereiro de 2009. Segundo reportagem do jornal "O Estado de São Paulo", Li teria participado de almoço oferecido ao secretário no Ministério de Segurança para combate ao crime organizado e à lavagem de dinheiro. O Ministério da Justiça informou que Tuma Jr. viajou a convite da China, e que nenhuma despesa de Paulo Li foi paga pelo governo brasileiro. No primeiro dia de férias, Tuma Jr. não respondeu aos contatos feitos para comentar o caso.