Título: Respostas ao dia seguinte das UPPs
Autor:
Fonte: O Globo, 19/05/2010, O País, p. 6

O programa das Unidades de Polícia Pacificadora foi lançado pelo governo fluminense com uma incógnita: como a ocupação de comunidades pela Polícia Militar não seria um fim em si, quais os movimentos seguintes para evitar que as áreas beneficiadas dependam exclusivamente do braço coercitivo do Estado na luta contra o poder de traficantes e milicianos? Uma reunião realizada semana passada entre o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes, secretários e representantes da iniciativa privada foi o primeiro passo efetivo para equacionar o dilema na prática.

Consolidada a presença de UPPs em 19 comunidades do Rio, o programa entrará em sua segunda fase nas áreas retomadas ao crime organizado, com a implementação de ações sociais e ambientais que, até o fim deste ano, terão beneficiado 220 mil moradores. Com isso, libera-se a PM para atuar em novas frentes por exemplo, reprimir o desmatamento e conscientizar a população sobre a importância da preservação ambiental, outro viés da degradação urbana decorrente da ocupação ilegal de morros e encostas. A corporação também já anuncia o envio de capelães às áreas pacificadas e a realização de atos ecumênicos.

Essa fase posterior das UPPs é decorrência lógica de um programa que, tendo empreendido operações de retomada de regiões até então subjugadas por criminosos, precisa ter propostas sólidas para instituir ações de cidadania que beneficiem os moradores e os resgatem definitivamente da área de in influência do banditismo. São positivos os passos a serem implementados: resgatar o conceito do Projeto Rondon, levando universitários às comunidades para aplicar na prática conhecimentos adquiridos nas salas de aula; a criação de rádios comunitárias; combater a pobreza extrema; implementar medidas de saneamento básico; estimular a vocação turística das favelas da Zona Sul, visando ao aproveitamento de oportunidades criadas pela Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Digna de destaque nessa nova fase do programa é a efetiva integração entre o governo do estado, a prefeitura do Rio e a iniciativa privada, evidenciada na reunião da semana passada no Palácio Guanabara. Parte-se corretamente do princípio de que a guerra contra o crime organizado e a violência, o cuidado com a segurança pública e a inclusão na cidadania de parcelas marginalizadas da sociedade são ações que pressupõem a participação do poder público em suas diversas instâncias.

Sob este aspecto, deve-se saudar como providência oportuna a nomeação de uma espécie de xerife o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos para tocar os projetos sociais e ambientais nas favelas com UPPs. A ele caberá o papel de interlocutor entre as comunidades, os órgãos públicos estaduais e municipais envolvidos no programa e a iniciativa privada. O desafio do dia seguinte das UPPs, portanto, parece estar sendo mesmo enfrentado com ações que visam a assegurar em definitivo a reintegração social das comunidades pacificadas.

É louvável a integração entre prefeitura e estado na nova fase do programa