Título: Bolsa de SP cai 3,22% com temor sobre Europa
Autor: Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 19/05/2010, Economia, p. 25

Dólar sobe 0,55%, a R$ 1,822, após medida alemã contra especulação levar euro à menor cotação em 4 anos

RIO, NOVA YORK, LONDRES e TÓQUIO. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou ontem pelo quarto pregão consecutivo depois de o euro renovar sua mínima frente ao dólar em quatro anos, em decorrência da proibição, na Alemanha, de venda de ações a descoberto (sem possuir os papéis). O Ibovespa, principal índice da Bolsa, terminou em queda de 3,22%, aos 60.841 pontos, menor patamar desde outubro de 2009. Apenas quatro dos papéis que compõem o índice fecharam em alta. Desde o pico em 8 de abril deste ano (71.784 pontos), o Ibovespa acumula queda de 15,24%.

Já o dólar comercial subiu 0,55%, negociado a R$ 1,822. Foi a quarta alta consecutiva da divisa americana, que acumula ganho de oito centavos no mês.

O euro desabou com as notícias da Europa, e as bolsas foram pelo mesmo caminho afirma Gabriel Goulart, analista da Mercatto Investimentos.

Pela manhã, investidores aproveitaram ações mais baratas e puxaram o Ibovespa para uma alta de 1,05%, incentivados pela notícia de que a Grécia recebeu a primeira parcela do empréstimo de ajuda dos países da União Europeia (UE), de C 14,5 bilhões.

Isso permitirá ao país evitar o calote de C 9 bilhões em dívidas que vencem em breve.

Estrangeiros tiraram R$ 2,2 bi da Bovespa desde 27 de abril Mas a Bovespa acabou seguindo o rumo dos mercados americanos, que caíram após a Alemanha anunciar a proibição de vendas de ações a descoberto e de especulação com títulos de governos por meio de contratos de derivativos, os chamados credit default swaps.

As autoridades reguladoras alemãs afirmaram que a medida que entra em vigor hoje e vai até 31 de março de 2011 era necessária devido à volatilidade excepcional do mercado.

A medida alemã sugere que o drama na Europa continua a se desdobrar disse Keith Wirtz, diretor de Investimento da Fifth Third Asset Management.

O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, caiu 1,08%, enquanto Nasdaq e S&P tiveram queda de 1,57% e 1,42%, respectivamente. Já o euro recuou 1,56% no mercado americano, para US$ 1,2202. Durante o dia, a moeda europeia atingiu a mínima de US$ 1,2162, a menor cotação desde abril de 2006.

As bolsas de Ásia e Europa, devido à diferença de horário, fecharam em alta. Tóquio ficou praticamente estável, com 0,07%, enquanto Xangai avançou 1,36%, depois de cair 5% na véspera. O pagamento da primeira parcela do socorro à Grécia havia tranquilizado os investidores.

Londres subiu 0,85%, Frankfurt, 1,47% e Paris, 2,08%.

Pesaram ontem na Bolsa a queda das blue chips Vale e Petrobras. Os papéis PNA (preferenciais, com direito a voto) da mineradora recuaram 3,87%, e os PN da petrolífera, 2,11%.

Ontem, o diretor de Relações com Investidores da Petrobras, Almir Barbassa, afirmou que a capitalização da estatal será em julho ou agosto.

As maiores quedas do Ibovespa foram das empresas de cartão de crédito Cielo (13,89%) e Redecard (10,76%). Também recuaram fortemente as construtoras Rossi (7,23%), Cyrela (6,27%) e MRV (6,18%).

As quedas de Cielo e Redecard ocorreram depois de o ministro da Justiça, Paulo Barreto, sugerir em entrevista à agência Bloomberg News um maior controle do governo sobre o setor no Brasil. Na véspera, os papéis ON (ordinários, com direito a voto) das duas empresas haviam subido 3,99% e 4,72%, respectivamente.

Primeiro vamos regular as tarifas aos consumidores, depois a relação com os clientes e, depois, discutir as taxas de juros disse o ministro, acrescentando que a mudança será de forma amigável e negociada.

Para o analista-chefe da Gradual Investimentos, Paulo Esteves, o Ibovespa opera sem fundamentos. O indicador preço/ lucro (PL) das ações estaria em 12 vezes. Isso significa que a Bolsa está barata, pois está abaixo da relação de 13 a 14 vezes dos últimos quatro anos.

Com base nos fundamentos, a Bolsa não teria muito mais espaço para cair. Mas o mercado está movido pelo medo e fora de qualquer análise racional diz o economista Para Hersch Ferman, da Yield Capital, a queda do Ibovespa ontem foi exageradamente acentuada. Segundo ele, continua forte a saída de investidores estrangeiros. Dados da BM&F Bovespa apontam que os estrangeiros retiraram R$ 2,2 bilhões da Bolsa desde 27 de abril deste ano, quando a agência de classificação de risco Standard & Poors (S&P) rebaixou o rating de Grécia e Portugal