Título: Amorim alerta para não desprezarem chance
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 19/05/2010, O Mundo, p. 30
Com o ministro turco, chanceler enviará carta ao Conselho de Segurança explicando os termos do acordo com o Irã
BRASÍLIA. Brasil e Turquia decidiram reagir ao esboço de resolução das Nações Unidas anunciado pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, prevendo sanções ao Irã.
Aparentando indignação com a postura dos Estados Unidos, que contariam com o apoio de China e Rússia, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, anunciou ontem que os governos brasileiro e turco vão redigir uma carta a todos os membros do Conselho de Segurança da ONU, explicando os termos do acordo fechado em Teerã e pedindo uma pausa, para que o assunto seja discutido e analisado antes de se tomar qualquer atitude punitiva quanto à política nuclear iraniana.
O Brasil é membro do Conselho de Segurança e, se houver apresentação (da resolução pedindo sanções), haverá uma reação. Achamos que os pontos essenciais para o acordo de troca de urânio levemente enriquecimento por combustível pode ser considerado o passaporte para uma solução negociada e pacífica. Eu e o ministro turco escreveremos uma carta aos membros do Conselho com essa visão disse Amorim. Temos, sim, uma chance de solução pacífica e negociada. Aqueles que desprezarem essa chance assumirão suas responsabilidades, assim como assumimos as nossas.
No comunicado, Brasil e Turquia dirão que o acordo procurou contemplar justamente as dúvidas apresentadas pelas grandes potências ocidentais, tendo à frente os Estados Unidos.
Amorim estranhou a posição do governo americano: É o acordo que eles propuseram.
Estamos apenas viabilizando o que eles queriam. Todas as dificuldades foram resolvidas, pelo menos no papel.
O chanceler enfatizou a importância da declaração assinada em Teerã. Disse que, pela primeira vez, o Irã aceitou uma proposta por escrito, que inclui a quantidade de urânio a ser transferido para a Turquia, de 1.200 quilos. E acrescentou que os iranianos também concordaram em fazer a troca em um terceiro país. De acordo com Amorim, hoje ou amanhã as autoridades iranianas enviarão uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), comunicando oficialmente o que foi decidido.
Críticos, no entanto, ressaltam que o Irã aumentou seu estoque de urânio o que torna a quantidade a ser enviada à Turquia menos expressiva e que não abriu mão de continuar a enriquecer o minério a 20%.
Amorim busca apoio de russos e chineses Referindo-se indiretamente aos EUA e às demais potências que defendem as sanções, Amorim afirmou: O fato é que todas as fontes oficiais diziam que o acordo estava sobre a mesa. Ignorar o acordo seria desprezar uma solução pacífica.
Segundo ele, a possibilidade de o Irã enriquecer urânio a 20% não foi discutida em Teerã, embora isso não impedisse que o tema voltasse a ser tratado na ONU. Ele acredita que a resolução mencionada por Hillary Clinton foi fechada antes do acordo de segunda-feira.
Tenho certeza de que China e Rússia estarão avaliando com muita atenção.
Amorim conversou ontem, por telefone, com os ministros de Exterior da Rússia, Sergei Lavrov, e da China, Yang Jiechi, na tentativa de convencê-los de que não há razão para ceticismo.
Ele relatou ter ouvido elogios, sobretudo do chinês.
A necessidade de uma maior articulação com os parceiros internacionais motivou a antecipação da volta de Amorim a Brasília.
Por determinação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele abandonou a cúpula de chefes de Estado em Madri. Perguntado sobre o assunto, o presidente se limitou a responder: Não quero falar agora.
Quero esperar maturar as notícias que saíram disse.