Título: Comando da campanha de Dilma censura vídeo
Autor: Vasconcelos, Adriana; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 20/05/2010, O País, p. 9

A pedido dos petistas, que consideraram gravação "ofensiva ao governo", material não foi exibido a presidenciáveis

BRASÍLIA. Para que a pré-candidata petista, Dilma Rousseff, comparecesse ontem à sabatina entre os presidenciáveis promovida pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o comando de sua campanha exigiu que não fosse exibido um vídeo, de três minutos e 20 segundos, que contaria o calvário dos prefeitos em busca de verbas federais na Esplanada dos Ministérios. Embora o comando da campanha do PT negue isso, representantes dos pré-candidatos do PSDB e do PV que participaram da negociação confirmaram que Clara Ant ex-secretária particular do presidente Lula e que agora trabalha na equipe de Dilma teria condicionado a ida da petista ao evento à retirada do vídeo. O veto do PT acabou deixando o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, numa saia justa logo na abertura da sabatina, quando o tucano José Serra questionou o motivo que teria levado a entidade a não exibir o vídeo. Cadê o vídeo? indagou Serra. Foi enviado anteriormente e não está sendo apresentado no momento respondeu Ziulkoski. Eu estava na maior curiosidade para ver. Porque o vídeo mostra o calvário de um prefeito para liberar um recurso. Foi tirado? retrucou Serra. Diante do consentimento com a cabeça do presidente da CNM, Serra acrescentou: Provavelmente foi tirado a pedidos. Mas eu não pedi. Gostaria de ter visto o vídeo. No final do evento, Ziulkoski justificou a opção pela retirada do vídeo: Nosso objetivo era trazer os três candidatos, não provocar nenhuma polêmica. De acordo com a coordenação da campanha de Dilma, a pré-candidata não chegou a assistir ao vídeo, mas sua equipe o considerou ofensivo ao governo e pouco fiel à verdade. O vídeo, no entanto, acabou sendo exibido aos participantes da XIII Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios no início da tarde, na ausência dos presidenciáveis. Trata-se de uma animação em quadros, sob o título O calvário dos prefeitos para conseguir recursos. Começa com pedidos da população aos prefeitos. Mas, até conseguir a liberação do dinheiro para determinada obra ou projeto, o governante é obrigado a percorrer um longo caminho, que passa pela intermediação dos parlamentares, idas e vindas a Brasília, exigências da CEF e os atrasos no repasse dos recursos. No encerramento, porém, o vídeo mostra que esse último recurso usado pelos prefeitos pode levá-los à prisão por desvio de verbas orçamentárias e cita uma série de operações deflagradas pela PF como Sanguessugas, Guabiru, entre outras. Fora a censura ao vídeo preparado pela CNM, a sabatina ocorreu em clima cordial, sem hostilidades a nenhum dos três pré-candidatos. Resultado, em parte, de um apelo feito pelo mediador, Paulo Ziulkoski, para que se evitasse manifestação do plenário. O pedido foi respeitado nas inquirições de Serra e da pré-candidata do PV, Marina Silva. Mas acabou descumprido no final, quando a petista foi saudada como Dilma, presidente. Serra e Dilma não conseguiram fugir de seus estilos mais técnicos, mas tentando mostrar simpatia. Sempre durona e falando muito alto, Dilma tentou quebrar o gelo no início da sabatina, perguntando para que câmera olhar e onde estava o microfone. Serra entremeou suas falas com algumas gracinhas. Os prefeitos riram muito quando ele fez uma associação do descaso do governo federal com os prefeitos com o filme O grande ditador, de Charles Chaplin. O ditador dava uma ordem para o general, que dava a ordem para um coronel, que a repassava para o major, que passava para o cabo, até chegar no soldado, o Carlitos, que olhava para trás e não tinha ninguém mais para ele mandar. O prefeito é o Carlitos comparou Serra, provocando aplausos.