Título: CNJ vai apurar fraude eletrônica no TJ-RJ
Autor:
Fonte: O Globo, 20/05/2010, O País, p. 12

Investigação pode resultar na condenação administrativa do desembargador Roberto Wider, envolvido no caso BRASÍLIA. A Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) vai investigar a transmissão de mensagens eletrônicas falsas para os desembargadores do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em nome de um repórter do GLOBO. A corregedoria, comandada pelo ministro Gilson Dipp, também vai verificar a segurança do sistema de transmissão de dados do tribunal. A investigação pode resultar na condenação administrativa do desembargador Roberto Wider, corregedorgeral de Justiça afastado do cargo em janeiro, suspeito de estar por trás da fraude. As punições variam de uma simples advertência até a aposentadoria compulsória ou seja, ele poderá ser impedido de trabalhar, mas receberá salário proporcional ao tempo de serviço. O mesmo caso também é alvo de uma investigação iniciada pela polícia do Rio. A Justiça Criminal do Rio enviou o inquérito ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o foro indicado para investigar e julgar desembargadores. Se for condenado pelo STJ, Wider, que nega qualquer envolvimento, poderá ser obrigado a abandonar a toga de forma definitiva. Denúncia veio à tona depois de confissão de técnico A fraude veio à tona depois que o técnico de informática Thiago da Silva, funcionário de uma empresa que presta serviços ao tribunal, confessou à polícia ter enviado as mensagens a pedido de Wider, com o objetivo de afetar a credibilidade do jornalista. As mensagens falsas pediam aos desembargadores contribuição com denúncias de eventual mau comportamento do presidente do tribunal, desembargador Luiz Zveiter. Wider já é alvo de um processo administrativo disciplinar, aberto pelo CNJ a partir de reportagens do GLOBO que ligavam o desembargador ao lobista Eduardo Raschkovsky. O lobista é apontado como suspeito de vender sentenças judiciais. Em depoimento à polícia, o técnico Thiago da Silva contou que também fora instruído por Wider a levar um envelope, contendo denúncias contra Luiz Zveiter, ao Ministério Público do Rio de Janeiro. O e-mail falso, enviado em nome de Chico Otavio, um dos autores das reportagens, conclamava os desembargadores do TJ, com a garantia do sigilo de fonte, a contribuir para uma suposta série do jornal que teria como alvo o desembargador Luiz Zveiter. Para a delegada Helen Sardenberg, responsável pela investigação, a intenção da fraude era exibir um suposto apetite denuncista do repórter e indispô-lo com a magistratura. Investigação quebrou sigilo eletrônico do e-mail falso A investigação policial, iniciada logo após a difusão do e-mail falso, levou pouco mais de um mês com três quebras de sigilo eletrônico e uma autorização para interceptação telefônica para chegar a Thiago da Silva, de 24 anos, funcionário há quatro anos da empresa Stefanini it Solution, que presta assessoria técnica ao TJ. A Google, porém, se recusou a fornecer dados sobre a caixa de correio do falsário. Wider considerou mentirosa a afirmação do técnico que apontou seu envolvimento com a falsificação do email. Ele disse que Thiago da Silva, acusado de cometer a fraude a seu pedido, iria esclarecer o caso à Corregedoria ou à Ouvidoria de Polícia, na companhia de um advogado, o que não aconteceu: Não existe nada de real nisso. Vai ter um desmentido dele dissera Wider. A delegada Helen Sardenberg disse que as declarações do técnico foram dadas espontaneamente. Ela divulgou imagens do início do depoimento de Thiago da Silva para provar que não houve coação: Thiago estava se sentindo à vontade para prestar as declarações. Com isso, ele demonstrou que estava seguro com o trabalho da polícia