Título: Lula: Tudo voltará à estaca zero
Autor: Oliveira, Eliane; Malchik, Roberto
Fonte: O Globo, 20/05/2010, Economia, p. 26

Questão iraniana abre debate sobre participação do Brasil em discussões de segurança global

MADRI e BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem uma solução negociada para o Irã no Conselho de Segurança da ONU, em vez da aplicação de sanções propostas pelos Estados Unidos e outros países-membros. Lula advertiu que a posição tomada pelos EUA um dia depois de ter sido fechado um acordo em Teerã entre Brasil, Turquia e as autoridades iranianas prevendo a troca de urânio por combustível pode causar um grande retrocesso. O grande problema do Irã é que ninguém conseguia sentá-lo na mesa para negociar. Agora, depende do Conselho de Segurança da ONU sentar com disposição de negociar. Caso contrário, tudo voltará à estaca zero afirmou. Foi a primeira vez que o presidente falou sobre o tema, após ser surpreendido com o rascunho de uma resolução, divulgado pelos EUA, propondo à ONU sanções a Teerã. O comentário foi feito durante a conferência Brasil, aliança para uma nova economia global, organizada pelo jornal Valor Econômico e pelo diário El País, e dirigida a empresários e políticos espanhóis. Lula citou os conflitos do Oriente Médio e defendeu mais atores no processo de negociação e mais disposição política: Enquanto houver apenas um país querendo resolver aquilo, não vamos ter tranquilidade no Oriente Médio. Se a ONU continuar assim, teremos problemas sérios de governança global. Argumento idêntico foi usado ontem pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Segundo o chanceler, a possibilidade de uma solução pacífica para o problema poderá ser adiada por dois a três anos. Não acho positivo ficar fazendo ameaças. Acho também que, se o Irã for inteligente, não dará bola para isso e continuará fazendo o que tem que fazer disse o ministro. Amorim e o chanceler da Turquia, Ahmet Davutoglu, enviaram uma carta aos membros do Conselho de Segurança defendendo o acordo de Teerã. Eles reforçam que a troca de material nuclear iraniano na Turquia será uma oportunidade de se chegar a um entendimento sem o clima de confronto. Ele negou que a atitude do governo americano venha a prejudicar suas relações com o Brasil. E lembrou que o próprio presidente Barack Obama pediu a Lula que o ajudasse com o Irã.