Título: Irã minimiza a eficácia de pacote de sanções
Autor:
Fonte: O Globo, 20/05/2010, O Mundo, p. 28

Esboço deixa de fora setor petroleiro em concessão a China e Rússia. Congresso dos EUA discute medidas unilaterais TEERÃ e NOVA YORK. O governo iraniano minimizou ontem o pacote de novas sanções a ser votado pelo Conselho de Segurança da ONU, colocando em dúvida não só a sua aprovação como sua capacidade de afetar a economia do país. De fato, para chegar a um consenso sobre o esboço, o rascunho apresentado na terça-feira acabou contendo medidas mais modestas do que os Estados Unidos esperavam, numa concessão para obter os apoios de China e Rússia. Para o chefe da agência atômica iraniana, Ali Akbar Salehi, os países que defendem as sanções correm o risco de perder credibilidade. Salehi disse ver poucas chances de aprovação e afirmou que a proposta seria um último recurso das grandes potências, incomodadas com o acordo costurado sem suas participações diretas. Sentem que pela primeira vez no mundo os países em desenvolvimento são capazes de defender seus direitos na arena internacional sem recorrer às grandes potências disse. Um dos principais assessores do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, Mojtaba Samareh-Hashemi, criticou a nova proposta de sanções, dizendo que o esboço que está sendo discutido não tem legitimidade alguma. Obama anuncia apoio do México e liga para Erdogan O rascunho acertado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança vinha sendo negociado há meses. Ele mira principalmente em bancos iranianos e na indústria armamentista, defendendo inspeções em navios com cargas suspeitas. Segundo diplomatas, o texto é o resultado de uma combinação entre os EUA e aliados europeus, que desejavam punições mais duras, e Rússia e China, que pretendiam suavizá-las. Para diplomatas, foi o melhor acordo que poderiam alcançar nas circunstâncias. Medidas que poderiam atingir a indústria de petróleo e gás iraniana ficaram de fora por objeção de Rússia e China, que têm negócios com o país. Segundo analistas, a China conseguiu proteger seus interesses comerciais e estratégicos. Apesar dos obstáculos, o presidente americano, Barack Obama, elogiou o esboço, deixando claro que já conta com pelo menos um apoio entre os membros não permanentes. Dado à cadeira que o México ocupa no Conselho de Segurança, nós concordamos na necessidade de o Irã cumprir suas obrigações internacionais ou enfrentar pressões e sanções crescentes disse Obama após se reunir com o presidente mexicano, Felipe Calderón, na Casa Branca. Obama ligou ainda para o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, para dizer que Washington vai manter a pressão por novas sanções ao Irã, afirmando que as recentes ações do país não constroem a confiança. Como as três resoluções anteriores, é pouco provável que esta consiga demover o Irã de seguir com o seu programa nuclear. Os antecedentes também não são animadores: apesar das sanções à Coreia do Norte, o país conseguiu realizar testes nucleares. Paralelamente, o Congresso americano pode aprovar sanções unilaterais para reforçar as da ONU e que poderiam atingir também os interesses de empresas estrangeiras do setor de petróleo. Numa coluna no site da revista Forbes, Mark Dubowitz afirma que uma comissão do Congresso já tem um projeto de lei com sanções ao setor energético iraniano, proibindo empresas que comercializam com os EUA de realizarem negócios relacionados ao petróleo iraniano, da importação a serviços e tecnologia. A União Europeia também poderá adotar sanções unilaterais um assunto que incomoda o governo da Rússia.