Título: China e Rússia fecham acordo
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 18/06/2009, Economia, p. 23

Os dois países estimularão uso de suas moedas nas transações comerciais no lugar do dólar. Brasil busca esse tipo de integração no Bric.

China e Rússia chegaram a um acordo para favorecer o uso de suas moedas nacionais (yuane e rublo, respectivamente) nos intercâmbios comerciais entre ambos os países, disse ontem o presidente russo Dmitri Medvedev. ¿Chegamos a um acordo para tomar novas medidas nesse sentido, realizando, inclusive, possíveis modificações das bases contratuais e legais, ou dando diretrizes adequadas aos ministérios das Finanças e aos bancos centrais¿, afirmou.

Medvedev e Hu Jintao, presidente chinês, assinaram uma série de acordos econômicos e expressaram sua intenção de modernizar o sistema financeiro mundial, sugerindo a necessidade de uma nova divisa supranacional paralela ao dolar. O total dos intercâmbios comerciais entre a Rússia e a China alcançou US$ 55 bilhões em 2008, segundo cifras do Kremlin.

Bric Os presidentes de Bancos Centrais (BCs) e os ministros da Economia de Brasil, Rússia, Índia e China, os países que foram o grupo Bric, estudarão ao longo dos próximos meses propostas para a substituição do dólar como moeda de referência para transações comerciais internacionais, confirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Astana, no Cazaquistão. De acordo com Lula, o modelo usado entre o Brasil e a Argentina pode ser o início, mas os debates devem levar anos.

Conforme Lula, as autoridades monetárias e os ministros da área econômica dos países-membros do grupo se encontrarão antes de setembro ¿ quando acontecerá a segunda reunião do ano do G20, em Pittsburg, nos Estados Unidos. ¿O Guido (Mantega, ministro da Fazenda) e o (presidente do BC, Henrique) Meirelles já estão autorizados a conversar com o presidente do BC da China, com o ministro da Economia da China, com o BC da Rússia, com o ministro da Rússia, para ver se há entendimento suficiente para começarmos a fazer experiências das trocas nas moedas de cada país, sem precisar comprar dólar para fazer nosso fluxo comercial¿, afirmou Lula.

De acordo com o presidente, há países propondo a criação de uma moeda internacional, enquanto outros propõem o uso de uma cesta de moedas como referência de comércio. Entre os modelos analisados, está o método adotado por Brasil e Argentina e baseado na abolição do dólar e na realização de negócios em reais e pesos. ¿Pode ser um bom começo¿, disse o presidente. ¿O que decidimos é que um conjunto de especialistas, junto com presidentes de Bancos Centrais e ministros da Economia, apresentará sugestões. É um passo extremamente importante.¿

Na terça-feira, a declaração final da Cúpula do Bric não fez referências enfáticas à medida. Nos bastidores, uma das razões evocadas para o silêncio sobre a questão monetária teria sido o bloqueio da China ¿ país que detém mais de US$ 2 bilhões em reservas na moeda norte-americana. Hoje, Lula desmentiu a informação. ¿Não houve veto. Essa discussão não estava assegurada. E não é uma discussão que acontece no dia seguinte. Leva anos.¿

Por ser incipiente, a discussão ainda é superficial, disse Lula, e não incluiu propostas de investimentos em títulos de outros países do grupo.