Título: A maior prisão para os jornalistas
Autor: Fabrini, Fabio
Fonte: O Globo, 15/05/2010, O Mundo, p. 34

ONG diz que país é o que mais encarcera profissionais no Oriente Médio Correspondente

PARIS. O Irã está quase entrando para o trio infernal Coreia do Norte, Eritreia e Turcomenistão como um dos países que mais reprimem imprensa no mundo, diz a organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF). O país já é hoje a maior prisão do Oriente Médio para jornalistas.

Das mais de 100 prisões de jornalistas e blogueiros no ano passado, 47 jornalistas foram condenados a entre 3 e 6 anos de prisão por terem escrito artigos sobre os protestos que tomaram conta do país durante a reeleição do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, em junho de 2009, feito críticas ao regime ou simplesmente colaborado com jornalistas estrangeiros.

Todos sob acusação de ação contra a segurança nacional.

Eu espero que o presidente Lula diga a Ahmadinejad que o que ele faz não é bom. Cinco pessoas foram executadas há alguns dias, e há vários jornalistas sob risco disse Reza Moini, representante da organização, com sede em Paris.

Jornalistas entregam bens como fiança Doze jornais tiveram sua publicação suspensa, e milhares de páginas web foram bloqueadas, segundo Moini.

Todas as publicações hoje no país estão sob controle direto do regime islâmico.

Jornalistas iranianos que ousarem trabalhar para a imprensa estrangeira, segundo Moini, podem ser presos por espionagem, com penas mais duras ainda.

Os jornalistas e blogueiros que conseguiram ser libertados da prisão foram obrigados a entregar o apartamento de suas famílias como fiança, já que, para sair da prisão, o governo exigia pelo menos C100 mil, segundo Moini. De acodo com os Repórteres Sem Fronteiras, sentenças contra jornalistas totalizam 75 anos de prisão, e quase C2,5 milhões foram pagos para as libertações.

Segundo a ONG, há vários casos dramáticos, como o de Ahmad Zeydabadi, que foi preso no dia 14 de junho de 2009 isto é, dois dias depois das eleições e está proibido de escrever para o resto de sua vida. Ele foi hospitalizado no dia 20 de agosto depois de fazer 17 dias de greve de fome e passar 40 dias em prisão solitária. Ahmad ainda está na prisão. Fariba Pajooh, do jornal reformista Etemade-Melli, foi presa por colaborar com a imprensa estrangeira Radio França Internacional (RFI) mdash; e solta no dia 23 de dezembro, depois de passar 4 meses na prisão e um mês em confinamento solitário.

Campanha para ajudar jornalistas que fugiram Os Repórteres Sem Fronteiras lançaram uma campanha internacional para ajudar mais de 80 jornalistas e blogueiros que conseguiram escapar do país para o exterior desde a repressão de junho. É o maior êxodo de jornalistas desde que a Revolução Islâmica foi instaurada no país, em 1979.

Cartas foram enviadas às autoridades dos 27 países-membros da União Europeia (UE) para que facilitem a concessão de vistos. Até agora, praticamente só a França respondeu, permitindo que 45 se exilem no país.