Título: Bahais pedem ajuda de Lula contra perseguição
Autor: Fabrini, Fabio
Fonte: O Globo, 15/05/2010, O Mundo, p. 34

Em carta ao Itamaraty, comunidade religiosa quer que Brasil envie observadores para o julgamento de seus líderes

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Teerã pressionado a interferir pelas vítimas de violações de direitos humanos no regime de Mahmoud Ahmadinejad.

Depois de receber, durante semana, documento assinado por entidades que denunciam perseguição, tortura e assassinato de minorias, a comunidade bahai grupo religioso com 350 mil membros no Irã quer que o governo brasileiro envie observadores para acompanhar o processo de julgamento de sete de seus líderes, presos há três anos e sob risco de condenação à pena de morte.

Em carta enviada há duas semanas ao Itamaraty, os bahais no Brasil pedem que o presidente Lula leve a proposta a Ahmadinejad, além de reivindicar que os líderes respondam ao processo em liberdade. O governo não se pronunciou sobre o assunto, embora tenha adiantado que não cabe a ele se imiscuir em questões internas do Irã. Os sete líderes cinco homens e duas mulheres eram interlocutores da comunidade e completaram ontem três anos na prisão Evin, em Teerã, considerada o cárcere político do regime.

Eles são acusados de espalhar a corrupção na Terra, crime que pode levar à pena capital, além de ofender as santidades do Irã, atentar contra a segurança nacional e trabalhar como agentes de Israel. A advogada dos réus, Shirin Ebadi, prêmio Nobel da Paz, argumenta que as acusações são vagas e, nos autos, não há evidências da prática dos crimes. A suspeita de espionagem se basearia, por exemplo, no fato de o Centro Mundial Bahai ser em Israel. É assim desde 1868, antes do conflito entre judeus e nações islâmicas.

Segundo Iradj Eghrari, secretário nacional bahai de Ações com a Sociedade e o Governo, a lei iraniana prevê a libertação após concluída a investigação, o que não foi cumprido. As três sessões processuais já feitas, para apresentação de provas e contraprovas, teriam sido a portas fechadas, com a presença intimidadora de agentes de segurança.

Na última, em abril, os presos teriam se recusado a falar diante de câmeras, temendo o uso que pudesse ser feito do material gravado.

O papel dos observadores seria garantir a lisura do procesDivulgação Divulgação so. A portas fechadas, um juiz decide o que quiser afirma Eghrari, acrescentando que, na condição de país amigo, o Brasil tem a confiança de Ahmadinejad e pode exercer o papel.

Ele argumenta que a negociação sobre a política nuclear não pode ofuscar outros assuntos: Esse tema não pode ter como moeda de troca o silêncio em relação aos direitos humanos.

Os bahais também se queixam das condições de encarceramento.

Os líderes estariam em celas com cinco pessoas, mas espaço para duas. Faltariam camas, ventilação e iluminação adequadas. O banho de sol seria permitido por duas horas semanais e o contato com parentes se daria com a separação de um vidro.

Templos confiscados e cemitérios destruídos Na visão de Eghrari, a prisão dos sete líderes é apenas um fragmento da situação dos bahais no Irã, tão crítica quanto a de homossexuais, dissidentes políticos e outras minorias. Nesta semana, a Frente para a Liberdade no Irã, composta por 200 entidades brasileiras, entregou ao secretário Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, um documento pedindo que o governo interfira na questão. O secretário diz que os bahais tiveram os templos confiscados e os cemitérios destruídos.

A despeito da polêmica em Cuba, onde Lula ignorou os apelos de presos políticos, Eghrari se diz otimista com a ida do presidente ao Irã, fiando-se na Constituição e na postura histórica do país frente ao tema: Nas assembleias da ONU, o Brasil tem se posicionado em favor dos bahais, que são 65 mil no país. A Constituição diz que a política externa brasileira será pautada pelo respeito aos direitos humanos. Não estou falando do que houve em Cuba, mas do que quero ver no Irã.