Título: Quando o Brasil ficar rico, todos vão odiá-lo em vez de odiar os EUA
Autor: Prescott, Edward
Fonte: O Globo, 21/05/2010, Economia, p. 24
Nobel de Economia diz que país está em rota ascendente e defende juros altos
ENTREVISTA Edward Prescott
O economista americano Edward Prescott, prêmio Nobel de 2004, destoa da maioria dos seus pares. Crítico do socorro dado pelo governo Barack Obama a bancos e empresas ¿ ¿As coisas estariam melhores agora sem a ajuda¿, diz ¿, Prescott revela-se cético sobre a necessidade de maior regulação do mercado. Para ele, crises como as do subprime são cíclicas e regras ¿simples e transparentes¿ são suficientes. Em sua visão, a turbulência está longe de passar e os EUA, apesar da recuperação dos últimos seis meses, seguem em depressão (não tão profunda quanto a dos anos 1930). Sobre o Brasil, elogia a política econômica e diz que o país está no caminho certo, em rota ascendente.
E brinca: ¿Quero que o Brasil fique rico, porque aí todo mundo vai odiar o Brasil em vez de odiar os EUA¿. Depois de fazer uma apresentação na sede da revista `Época Negócios¿, ontem, Prescott falou ao GLOBO.
Ronaldo D¿Ercole SÃO PAULO
O GLOBO: Além de crítico do plano de socorro a bancos e empresas do governo Obama no auge da crise, o senhor vê com reservas o clamor por mais regulação nos mercados.
EDWARD PRESCOTT: Gosto de regras que privilegiem a simplicidade e a transparência.
E de não ter políticos, que geralmente estão sob tremenda pressão de grupos de interesse, tratando disso. Podese ter coisas ruins. O Federal Reserve (o banco central americano), que controla os bancos comerciais, tem feito um bom trabalho e penso que estamos caminhando para um sistema melhor. Limitando a alavancagem dos intermediários financeiros não pode haver grandes danos, pois os ganhos de capital não serão exagerados.
Como o senhor vê os problemas fiscais nos países da zona do euro? PRESCOTT: Os problemas da Grécia são um bom alerta.
Suas políticas eram ruins, o governo foi desonesto com as receitas e seus gastos eram totalmente sem controle. Mas outras partes da comunidade vão bem. A Polônia, por exemplo.
Às vezes, crises podem ser desculpas para coisas boas, ou para coisas ruins. Na atual crise, penso que as coisas tendem a ser melhores. Nós só podemos avançar.
Essa situação não coloca em risco o euro como unidade monetária? PRESCOTT: Isso é algo novo.
Há um acordo que envolve outros países. Não estou certo do que pode acontecer com um default (moratória da dívida) da Grécia, se eles vão sair ou ficar na comunidade.
Ter uma unidade monetária comum ajuda a elevar ganhos e os negócios tornam-se mais lucrativos. Espero que eles se deem bem.
E o Brasil, está se saindo bem? PRESCOTT: No que se refere às políticas econômicas, o resultado tem sido bom. Como o governo conceder independência para o Banco Central e o governo deixar que algumas companhias aéreas quebrassem. Há uma série de outras coisas.
Mas o país tem as maiores taxas de juros do mundo...
PRESCOTT: Quando as taxas de juros estão altas significa que as coisas estão indo bem, se poupa mais e essa poupança é mais consumo na frente. Significa oportunidades de investir, poupar para a aposentadoria.
É um bom indicador