Título: Comportamento dos EUA é alvo de críticas
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Fonte: O Globo, 24/05/2010, O Mundo, p. 24

Analistas atribuem recuo a pressões internas

O fato de o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ter apresentado à ONU uma proposta de impor sanções ao Irã, um dia depois do Brasil e da Turquia terem obtido do governo iraniano um acordo de ceder à demanda daquela instituição para que enviasse urânio para ser enriquecido no exterior ¿ num grau suficiente apenas para uso médico e energético ¿ é visto por especialistas brasileiros em relações exteriores como uma rendição de Obama a pressões internas.

¿ Fica claro que o Brasil tinha uma ação responsável quando abriu as negociações com o aval dos EUA. A carta (de Obama para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antes de sua viagem à Teerã) prova isso ¿ disse Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais na Universidade Estadual Paulista.

Ela se referia ao fato de Obama ter afirmado à Lula, que se o Irã concordasse em enviar 1.200 quilos de urânio para ser enriquecido em outro país, a um grau suficiente apenas para uso médico e energético, ¿geraria confiança e diminuiria as tensões regionais¿. Foi exatamente isso que Brasil e Turquia obtiveram do governo iraniano.

Para Williams Gonçalves, professor de Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, a divulgação da carta deixa clara a divisão do governo americano.

Ele lembra que o presidente Obama já havia indicado que desejava um acordo com o Irã, mas teve que ceder às pressões da elite política e intelectual dos EUA.

Integrantes das comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado criticaram o recuo. O líder em exercício do PT na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (SP), disse que a insistência dos EUA em impor novas sanções ao Irã desmoraliza Obama. O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Eduardo Azeredo (PSDBMG), viu a carta de Obama como um ¿incentivo¿ a que o Brasil avançasse nas negociações.

Mas ressalvou que ela também continha um alerta de que um acerto com o presidente Mahmoud Ahmadinejad careceria de garantias.

Diante do mal-estar causado pelo recuo de Obama, o secretário de Estado Adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, enfatizou as boas relações bilaterais: ¿ Estamos nos dando bem numa quantidade enorme de assuntos. A lista é muito longa. Estamos extremamente comprometidos em manter uma forte ligação com o Brasil. Tivemos uma diferença de avaliação em relação ao Irã ¿ disse ele sexta-feira, em Atlanta, antes da divulgação de trechos da carta.