Título: Entre a emoção e a razão
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 24/05/2010, O Mundo, p. 23

Campanha eleitoral colombiana termina com Mockus a 2 pontos do candidato governista

Nem a forte chuva nem o frio de 10°C na capital colombiana afastaram ontem a onda verde que tomou a Praça Bolívar, no centro de Bogotá, onde pelo menos 30 mil pessoas assistiram ao comício de encerramento da campanha do candidato do Partido Verde, Antanas Mockus, às eleições presidenciais do próximo domingo. Tomando picolés de limão com um forte corante verde ¿ cortesia dos organizadores da campanha ¿ usando camisetas, guarda-chuvas, capas de chuva ¿ tudo da mesma cor ¿ além de cartazes e bonecos gigantes de Mockus, a multidão demonstrou seu apoio. Segundo a última pesquisa divulgada ontem pelo instituto Ipsos Napoleon Franco, Mockus está dois pontos atrás do governista Juan Manuel Santos, que tem 34% das intenções de voto ¿ mas é favorito para ganhar no segundo turno. Santos também encerrou sua campanha ontem: só que, em vez da fria Bogotá, escolheu a caribenha e quente Cartagena das Índias que, no entanto, também sofreu com as chuvas.

Cantando um dos slogans da campanha ¿Se vive, se sente, Mockus presidente¿, a professora Yolanda Peñalosa, de 51 anos, resumia bem a atual disputa colombiana: ¿ Votar em Mockus é votar com emoção; já votar em Santos é votar com razão. Tem muita gente que pensa muito antes de deixar o uribismo para trás. Porque tem medo de que os verdes não estejam preparados para governar, de que a violência volte a piorar. Mas quem está aqui hoje está pensando mais com o coração.

Mockus nos toca na alma e acreditamos nele.

O estudante Andrés Gaines, de 18 anos, concorda.

Para ele, a Colômbia melhorou nos oito anos de governo Álvaro Uribe, sobretudo na questão da segurança. Mas agora, avalia, é hora de ir além e dar a Mockus a chance de ¿trazer mais educação e Justiça ao país¿.

¿ Muita gente não aguenta mais a corrupção e o desrespeito às leis que ocorrem aqui ¿ completa o advogado Erwin Guerrero, de 55 anos, referindo-se a escândalos associados ao governo Uribe e citando compra de votos, clientelismo e favorecimento político a paramilitares.

Estratégia focada na descrença do eleitor

É nesse desgaste do governo Uribe ¿ com a ajuda do carisma todo peculiar de Antanas Mockus ¿ que a campanha do Partido Verde trabalha.

Ontem, segurando lápis e a Constituição, Mockus prometeu mais educação, além de trazer de volta a legalidade e fortalecer as instituições. Ele diz que a história da Colômbia ¿será escrita com lápis e não com sangue¿.

¿ O lápis e a Constituição são as nossas armas.

Ninguém precisa ter medo de mudar. Nada mais de medo ¿ pedia o candidato.

Horas antes, o jornal ¿El Tiempo¿, o principal da Colômbia, publicara uma longa entrevista em que Mockus reagiu a críticas de que suas propostas de governo são vazias. Ele explicitou seu plano de ação e prometeu ainda aumentar em até 23% os impostos pagos pelos ricos colombianos, numa tentativa de conter a desigualdade social e o imenso déficit público.

Exprefeito de Bogotá por duas vezes, o professor universitário, matemático e filósofo de 58 anos tem fala pausada. Durante o comício de encerramento da campanha, de repente, fez uma longa pausa e pediu para que ninguém mais gritasse ¿ e sim sussurrasse palavras de apoio a ele, afirmando que sua intenção não é assustar, e que somente de forma suave a força é eficaz.

Mockus finaliza propondo seu já famoso exercício de confiança que, para ele, é a ¿maior emoção que existe, a chave de tudo¿. Por causa da chuva, os presentes não puderam se jogar nos braços uns dos outros ¿ para mostrar a confiança no próximo. Mas, juntos, puxados por Mockus, todos declamaram: ¿(...) Que a confiança reine e permita que a Colômbia se torne um país tremendamente poderoso, porque onde há confiança há comunicação. Onde há comunicação há transparência. Onde há transparência há sinceridade. E assim a violência se torna obsoleta e nula¿.

¿ É como participar de evento de autoajuda.

Faz bem para a mente ¿ elogia o advogado Erwin Guerrero, com lágrimas nos olhos, como muitos dos presentes.