Título: O jogo diplomático das negociações com o Irã
Autor: Oliveira, Eliane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 21/05/2010, O Mundo, p. 30

Sejamos generosos e chamemos as frenéticas manobras diplomáticas que vêm ocorrendo na semana sobre o programa nuclear iraniano de ¿negociações¿ à moda Teerã.

É assim que está o placar neste momento: primeiro os iranianos disseram ¿sim¿ em outubro, num acordo para enriquecer urânio fora do país; em seguida, disseram ¿não¿; então, na segunda-feira, disseram ¿sim¿ a uma versão do acordo mediado por Turquia e Brasil.

Teerã estava esperançoso de que, ao aceitar o acordo, eliminaria uma nova resolução elaborada pelo Conselho de Segurança da ONU. Os candidatos a mediadores, Turquia e Brasil, esperavam lustrar as suas credenciais como líderes de um novo movimento dos ¿não alinhados¿.

Mas os negociadores, na última hora, parecem ter errado no cálculo: na terça-feira, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (o P5), incluindo a Rússia e a China, foram em frente e aprovaram um rascunho de resolução, condenando o programa nuclear do Irã, ignorando as maquinações de Teerã do dia anterior.

A nova resolução da ONU não vai interromper o programa nuclear iraniano, assim como as últimas três resoluções não o fizeram. O rascunho discute sanções na área de energia e um embargo de armas, mas não especifica seus mecanismos de execução.

Os Estados Unidos e seus aliados vão acrescentar às sanções da ONU algumas medidas mais duras, mas elas também não serão suficientes para deter Teerã.

O que é importante sobre a posição unificada da ONU é que ela vai forçar o Irã a retornar à mesa de negociação, caso o país queira evitar o crescente isolamento diplomático de grandes potências do mundo.

Sim, Teerã pode alegar que tem o apoio de duas das nações emergentes no mundo ¿ a Turquia e o Brasil, os aliados na luta contra os grandes demônios do Conselho de Segurança.

Mas, realisticamente falando, os iranianos sabem que a perda de Rússia e China na questão das sanções os deixa numa areia movediça.

O governo Obama vem calculando que a união do P5 é mais importante do que os detalhes de uma resolução com sanções, e os acontecimentos desta semana mostraram que a estratégia está certa. O rascunho da resolução foi um pagamento ao presidente Obama por suas oito discussões sobre o Irã com o presidente russo, Dmitri Medvedev, no último ano, e de sua recém parceria com o verdadeiro poder emergente do mundo, a China.

O que vem pela frente neste jogo diplomático de apostas? A resposta, diz um alto funcionário do governo, é que o Irã deve enfrentar duas questões fundamentais que estavam no acordo de outubro. Ele exigia que o Irã enviasse 1.200 quilos de urânio pouco enriquecido ao exterior para receber em troca 120 quilos de urânio a 20%. A nova medida na versão do acordo turcobrasileiro foi que o combustível iraniano seria enviado para a Turquia, em vez da Rússia.

Para fazer o acordo decolar, diz o alto funcionário dos EUA, o Irã deve, primeiro, encontrar-se com o P5+1 para uma discussão aprofundada, conforme especificado no acordo original de Genebra. E, segundo, Teerã deve concordar em parar com seu próprio enriquecimento a 20%. A afirmação do Irã de que tinha o direito unilateral de continuar o enriquecimento a 20%, independentemente da troca de combustível, fortaleceu o apoio russo e chinês às sanções, segundo o alto funcionário.

É provável que esta negociação termine quando o Irã anunciar...

surpresa: tem todos os elementos para uma arma nuclear e é, de fato, uma força nuclear.