Título: O risco também é do motorista
Autor: Bernardes, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 18/06/2009, Cidades, p. 35

Quase dois terços dos condutores que morreram em acidentes de trânsito em 2007 no DF haviam ingerido bebida alcoólica, segundo pesquisa por amostragem feita pelo IML

Teste do bafômetro, mais comum depois da lei seca: especialistas explicam que, ao beber, a pessoa abusa da velocidade e faz manobras perigosas Ao mesmo tempo em que tira a vida de inocentes, a mistura álcool e volante mata os motoristas incrédulos dos riscos dessa combinação. O Correio teve acesso com exclusividade a dados parciais de uma pesquisa que relaciona as mortes no trânsito do Distrito Federal e o uso do álcool. Ela revela que 62% dos motoristas que perderam a vida em acidentes automobilísticos estavam alcoolizados.

O levantamento ¿ por amostragem ¿ é realizado pelo Instituto de Medicina Legal (IML-DF). Os dados referem-se a mortes ocorridas em 2007, mas só agora o estudo está concluído. Os peritos fizeram o exame de sangue em 87 motoristas que morreram no local do acidente de trânsito e descobriram que 54 deles tinham entre 0,2 e 2,87 decigramas de álcool por litro de sangue. Índices bem inferiores ao limite de 6 decigramas tolerado anteriormente pelo Código de Trânsito Brasileiro, mas que ainda hoje é defendido por quem considera a tolerância zero exagerada.

A amostragem se deu com base nas 467 mortes registradas em 2007. O IML fez o teste de alcoolemia em 190 vítimas. Dessas, 87 eram condutores de veículo. Apesar de alto, o percentual de 62% de motoristas alcoolizados é menor do que o apurado em 2005 pelo médico legista Manoel Eugenio dos Santos Modelli. Naquele ano, 84,6% dos motoristas tinham álcool no sangue. ¿A redução das mortes foi ainda maior depois da lei seca (Lei nº 11.705, em vigor desde 20 de junho de 2008). Só vejo um problema: a legislação despreza o exame clínico na hora de criminalizar o motorista. Isso beneficia o infrator¿, observa. Entende-se por exame clínico a análise do equilíbrio, da coordenação motora e do raciocínio lógico do condutor.

Sem noção Professor de medicina e coordenador do Programa Acadêmico Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Mauro Braz de Lima explica que, nas primeiras doses, a pessoa perde a inibição e o poder de análise crítica. ¿Ela abusa da velocidade, faz manobras e ultrapassagens perigosas, o que favorece o risco de acidente¿, afirma Lima, que discorda da mudança na alcoolemia determinada pela lei seca. Para ele, os efeitos seriam os mesmos com a legislação anterior caso ocorresse fiscalização efetiva.

Secretário-geral da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, o médico Alberto Sabbag acrescenta que o álcool desorganiza de tal modo as funções do organismo que reduz as chances de sobrevivência da vítima de um acidente. ¿A pessoa perde muito mais sangue do que quem não bebeu e tem mais dificuldade de respiração.¿