Título: Desembarque chinês
Autor: Rosa, Bruno ; Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 22/05/2010, Economia, p. 25

Em nova investida da China no Brasil, estatal compra fatia em campo petrolífero por US$ 3 bi

Menos de uma semana após a estatal chinesa State Grid ter anunciado a compra, por US$ 1,07 bilhão, de sete empresas de transmissão de energia no Brasil, ontem foi a vez de os chineses investirem pesado no mercado de petróleo brasileiro. A chinesa Sinochem ¿ um dos principais conglomerados estatais do país, com atuações nos setores de energia, agronegócio, químico e imobiliário ¿ venceu a disputa por uma participação de 40%, avaliada em US$ 3,07 bilhões, em um campo petrolífero da Statoil, na bacia de Campos, segundo anunciou ontem a companhia norueguesa.

Essas duas investidas recentes superam de forma estratosférica os US$ 82,6 milhões aplicados no país em 2009, assim como os US$ 359 milhões em investimentos diretos chineses no Brasil no primeiro trimestre, segundo dados do Banco Central (BC) brasileiro.

Mesmo assim, as cifras do BC já alçam a China ao posto de quinto maior investidor estrangeiro no Brasil, atrás apenas de EUA, Bermudas, Holanda e França, com 6,1% do total investido no país no primeiro trimestre deste ano.

Os números não consideram ainda o investimento da siderúrgica chinesa Wisco, também estatal, que acertou com a a MMX Mineração, do empresário Eike Batista, desembolsar 70% de um investimento de US$ 5 bilhões na construção de uma siderúrgica no Porto do Açu, em São João da Barra.

Também não está na conta um acordo, divulgado esta semana, do grupo Itaminas para a venda de seus negócios de minério, por US$ 1,2 bilhão, para o consórcio chinês ECE Birô de Exploração e Desenvolvimento Mineral do Leste da China.

Segundo a Statoil, a empresa chinesa Sinochem foi escolhida após vencer uma licitação internacional. A venda de 40% aconteceu, diz a companhia, porque o objetivo era adquirir um parceiro estratégico. As duas empresas também fizeram um acordo para buscar novas oportunidade no Brasil.

Fontes do setor disseram à agência de notícias Reuters que o grupo apresentou oferta superior às das rivais CNOOC e Sinopec, também chinesas.

¿ A Statoil está envolvida em participar do desenvolvimento do mercado brasileiro de petróleo e gás. Temos sete licenças de exploração nas bacias de Campos, Santos e CamamuAlmada (no Nordeste).

Temos acordo de cooperação ainda com a Petrobras ¿ afirmou ao GLOBO Jannik Lindbaek, vice-presidente de relações com a mídia da Statoil.

A operação se insere na estratégia das estatais chinesas do setor petrolífero de buscar ativos de alta qualidade, para apoiar o forte crescimento econômico do país. Só no ano passado, essas estatais chinesas anunciaram US$ 18,8 bilhões em aquisições, segundo a Reuters.

Em novembro, a Statoil afirmou que poderia reduzir sua participação de 100% no campo de Peregrino, na bacia de Campos. A Statoil disse que o desinvestimento vai reduzir sua projeção de produção para 2012 em 40 mil barris de óleo equivalente por dia, para 2,06 a 2,16 milhões de barris por dia.

¿O desinvestimento é um passo natural no esforço contínuo de otimizar nosso portfólio¿, afirmou por sua vez o presidente executivo da Statoil, Helge Lund, em um comunicado.

¿A empresa permanece comprometida em finalizar o desenvolvimento de Peregrino como planejado, operar o campo com eficiência e explorar mais oportunidades de crescimento na região.¿ A Sinochem ainda não tem escritório no Brasil. Esse, porém, não é o primeiro investimento chinês no setor de petróleo país. O advogado Heller Redo Barroso, especializado na área, lembra que a estatal chinesa Sinopec adquiriu a participação em dois blocos na bacia Pará-Maranhão em parceria com a Petrobras.

O negócio foi em abril deste ano.

¿ A aquisição do Peregrino é uma manobra de diversificação das empresas chinesas no Brasil. Essas companhias normalmente atuam no setor de exploração e refinaria. O plano dos chineses é de um investimento amplo.

Eles não vão focar no país apenas como ponto de aquisição de petróleo bruto ¿ avaliou Barroso. Em março, em outro sinal do interesse crescente dos chineses no Brasil, o gigante Bank of China Limited ¿ dono de ativos superiores a US$ 1 trilhão e negócios espalhados por mais de 20 países ¿ abriu uma subsidiária integral em São Paulo. Controlado pelo governo chinês, o Banco da China Brasil já financiou empresas brasileiras na suas compras de fornecedores chineses.

Sinopec vai explorar costa brasileira

No setor petrolífero, os chineses já atuavam no Brasil. Em abril, a Sinopec obteve licença para desenvolver dois blocos petrolíferos na costa norte brasileira, segundo acordo com a Petrobras. Na terçafeira, a empresa anunciou que as compras de petróleo do Brasil deverão alcançar 200 mil barris por dia em 2011, 43% a mais do que este ano, em meio a níveis recordes de importação de petróleo pela China.

¿ Tecnologicamente é bastante desafiador.

Mas no portfólio geral, é uma ação inteligente porque em águas profundas pode-se achar reservas bem grandes ¿ disse Gordon Kwan, diretor regional de pesquisa energética da Mirael Asset Securities