Título: 'Vejo progresso no Brasil como ator'
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 23/05/2010, O Mundo, p. 34

Assessor de assuntos geopolíticos de Barack Obama na campanha presidencial de 2008, o indiano Parag Khanna defende alterações substanciais na política externa dos EUA, sobretudo o engajamento com países emergentes. Ele disse ao GLOBO que a ascensão do Brasil no plano diplomático não deve ser vista só pelo impasse com o Irã.

GLOBO: A decisão do Conselho de Segurança da ONU de prosseguir com sanções ao Irã é um golpe nas pretensões diplomáticas dos emergentes? PARAG KHANNA: Não se pode interpretar uma decisão do Conselho de Segurança como uma decisão da ONU, mas simplesmente uma expressão do desejo americano de conter o Irã. Países emergentes podem conduzir seus próprios esforços em outras esferas e nem por isso eles são menos legítimos.

Brasil e Turquia mostraram o que é possível em termos de novos eixos diplomáticos, e isso não pode ser desmerecido sequer pelo Conselho.

Obama chegou ao poder prometendo novas práticas na política internacional dos EUA. Houve retrocesso? KHANNA: Sim. Obama foi genuíno ao conversar com a sociedade árabe em vez de apenas governos, e sincero nas discussões de desarmamento com a Rússia. Fiquei menos impressionado com os esforços com Israel, Cuba e Irã.

Mas tenho ouvido muitos diplomatas falando do envolvimento do Brasil em discussões internacionais, e vejo progresso no reconhecimento do país como um ator importante.

Em relação a seu argumento de que os EUA não podem se dar ao luxo de menosprezar o engajamento com países emergentes, há decepção? KHANNA: Essa mudança passa por algo maior que o mero reconhecimento da multipolaridade. É preciso estimular os emergentes a assumirem mais preponderância nos desafios regionais.

Os EUA aceitariam um Irã nuclear? KHANNA: O país aprendeu a aceitar uma Índia nuclear e agora há uma aproximação com o Paquistão. Se o Irã se tornar nuclear, terá de ser tratado como tal pelos EUA.