Título: Faltam engenheiros, eletricistas... Mão de obra é o principal gargalo
Autor: Doca, Geraldo; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 23/05/2010, Economia, p. 28

Apenas 25% dos brasileiros estão em condições de serem capacitados Vivian Oswald A falta de mão de obra qualificada está no topo da lista de reclamações da indústria e já é apontada pelo governo como o principal gargalo a ser enfrentado pelo país para atender às demandas crescentes da economia. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, admitiu ao GLOBO que o Brasil só conseguirá qualificar em 2010 um quarto do que seria necessário ¿ um milhão em vez de quatro milhões de trabalhadores. O mais grave é que não se trata apenas de preparo técnico ou especializado. Só 25% dos brasileiros dominam a escrita, a leitura e a matemática para se expressar e entender o que está à sua volta no contexto econômico e tecnológico atual.

O dado é do Indicador de Analfabetismo Funcional 2009, realizado pelo Instituto Paulo Montenegro, braço sem fins lucrativos do Ibope.

¿ Isso limita o potencial de expansão do país, sobretudo para os setores de serviços em geral e de turismo em particular, que exigem mais qualificação ¿ diz a diretora-executiva do instituto, Ana Lucia Lima.

A indústria da construção civil precisará de 380 mil novos empregados até 2014 para a realização de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Minha Casa, Minha Vida e de projetos voltados para Olimpíadas e Copa do Mundo.

Por isso, está preocupada e garante que a falta de qualificação é o principal problema a ser enfrentado pelo setor.

Vagas não são preenchidas por falta de qualificação Segundo Lupi, cerca de 900 mil vagas ofertadas nas agências do Sistema Nacional de Empregos (Sine) em todo o país deixaram de ser preenchidas em 2009 porque os candidatos não tinham a qualificação exigida.

¿ A falta de qualificação hoje é problema sério no país e está ligada ao trabalho moderno, onde a informática está cada vez mais presente ¿ afirmou Lupi.

Para complicar, parte dessa demanda por trabalhadores deverá ocorrer no interior dos estados, onde a situação de escassez é ainda mais grave.

¿ Estão previstas obras em municípios que não contam com profissionais disponíveis ¿ disse o gerente do Observatório Ocupacional do Serviço Nacional da Indústria (Senai), Márcio Guerra Amorim.

Estudos do Senai indicam que 54% da demanda por mão de obra da construção civil serão concentrados na Região Sudeste; 18%, no Nordeste; 14%, no Sul; 8%, no Centro-Oeste; e 6%, na Região Norte. O economista do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, afirma que esse é um problema estrutural que demanda anos de investimento e maturação para ser resolvido.

¿ Esse não é um problema conjuntural como a importação de cimento ou de peças que algumas companhias não estejam conseguindo produzir aqui por causa do crescimento. Antes, as empresas contratavam trabalhadores para treiná-los, mas nem estes estão disponíveis, o que as obriga a fazer melhores propostas a pessoas que estejam no mercado de trabalho, elevando os custos da produção.

A avaliação do Ministério da Fazenda vai na mesma linha.

Segundo técnicos, embora setores como o aeroportuário e o de transportes também estejam sendo pressionados por gargalos, essas são áreas que estão recebendo investimentos.

¿ São gargalos que não impedem o crescimento ¿ diz um técnico do governo.

O orçamento do Ministério do Trabalho, somando recursos da União e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), soma R$ 800 milhões. Lupi até tentou retirar da Desvinculação das Receitas da União (DRU) as receitas do FAT para aumentar a verba da qualificação, mas não teve o aval da equipe econômica.