Título: O ônibus do futuro
Autor: Grandelle, Renato
Fonte: O Globo, 26/05/2010, Ciência, p. 34

Lançado veículo movido a hidrogênio que não polui, nem faz barulho Renato Grandelle

O futuro do transporte coletivo chega quase sem fazer barulho.

No lugar do motor à combustão, entra um silencioso conjunto de baterias, carregado na tomada.

Em vez de fumaça, o cano de descarga elimina vapor dágua que, se condensado, poderia ser bebido normalmente.

Assim funciona o ônibus a hidrogênio, que será apresentado hoje pela Coppe/UFRJ no Aterro do Flamengo o primeiro a rodar no país. O invento ganha as ruas no próximo semestre. E, embora tenha custo maior do que os tradicionais veículos a diesel, espera-se que sua presença cresça exponencialmente até a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas, dois anos depois.

O preço do ônibus a hidrogênio é cinco vezes maior do que o dos movidos a diesel, mas o investimento na nova frota prova-se mais barato em cerca de três anos, segundo seus idealizadores. Ao contrário do transporte já disponível, o novo modelo, com tecnologia 100% nacional, tem aparato mecânico menor e custo irrisório de abastecimento.

O veículo, que não emite poluentes um ganho e tanto em tempos de aquecimento global e necessidade de redução de emissões de gases-estufa também gera uma economia significativa para o sistema de saúde pública. Se toda a frota paulistana fosse substituída por ônibus a hidrogênio, a cidade deixaria de desembolsar R$ 600 milhões com o tratamento de doenças respiratórias.

Três fontes de energia disponíveis

O veículo, que tem autonomia para percorrer 300 quilômetros, usa três fontes de eletricidade: conexão prévia à rede (feita por baterias carregadas na tomada), pilha a combustível (alimentada com hidrogênio) e energia produzida a bordo.

Um ônibus a diesel desperdiça energia cinética produzida quando o motorista freia ou não pisa no acelerador.

No veículo a hidrogênio, ela transformase em energia elétrica, armazenada em ultracapacitores explica Paulo Emílio de Miranda, coordenador do Laboratório de Hidrogênio da Coppe.

Um condutor reúne essas fontes aos diferentes equipamentos do veículo ar condicionado, sistema de tração, acionamento de portas. A divisão do espaço interno foi idealizada para que houvesse o menor gasto de energia possível. Ainda assim, foi possível dar ao ônibus um aspecto semelhante ao de seus antepassados a diesel. Dentro dele cabem 68 pessoas, sendo 27 sentadas.

Há, também, rampa e uma área reservada para deficientes físicos.

O ônibus começará, no mês que vem, a transportar alunos e professores pela Cidade Universitária, onde foi construído.

A Petrobras vai instalar um posto de abastecimento na região, com cilindros que armazenem hidrogênio gasoso.

Até o fim do ano, o veículo será incorporado à frota de uma empresa de ônibus comercial, provavelmente cumprindo o trajeto entre os aeroportos do Galeão e Santos Dumont.

Antes de produzir veículos semelhantes, a Coppe vai se dedicar à fabricação de outros dois protótipos: um ônibus elétrico híbrido a álcool e outro exclusivamente elétrico. Segundo Miranda, cada modelo tem as suas vantagens.

O veículo 100% elétrico não produz resíduo algum. Sequer tem cano de descarga. Mas sua autonomia é a menor entre os três, e, por isso, ele é apropriado para trajetos mais curtos compara. O híbrido a álcool conta com uma infraestrutura instalada, que são os atuais postos de abastecimento.

Mas o ônibus de hidrogênio, que inauguramos agora, me parece o mais sustentável, o que vai perdurar.

O projeto da Coppe junta-se a um seleto grupo, composto por cerca de dez iniciativas no mundo (a maioria ainda em fase de protótipos), visando ao desenvolvimento de ônibus movidos a hidrogênio.

Estima-se que tenham sido produzidos cerca de 50 veículos semelhantes ao que será usado no Rio.

O ônibus contou com financiamento de empresas privadas, Petrobras e Finep. Agora, a Coppe negocia investimentos para a construção de pequenas frotas com a Federação das Empresas de Transportes de Passageiros (Fetranspor), a prefeitura e o governo estadual.

É uma grande demonstração de capacidade tecnológica e preocupação ambiental do país elogia Miranda.

A mudança da frota de ônibus começará timidamente, mas, na Copa do Mundo, podemos ter um transporte limpo, ao menos em alguns corredores urbanos.