Título: FMI: país pode crescer 7% este ano
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 26/05/2010, Economia, p. 25

Mas, para manter essa taxa a médio prazo, é preciso investir mais, diz Strauss-Kahn

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, afirmou ontem que o Brasil tem condições de crescer 7% este ano como está sendo previsto pelo mercado, mas ele não acredita que essa expansão da economia seja sustentável a médio e longo prazos. Para ele, o país só teria condições de crescer nesse ritmo se aumentasse seus investimentos em educação, pesquisa e automação.

Strauss-Kahn, que visitou ontem à tarde o Centro de Engenharia Naval e Oceânica do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (USP), acredita que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) do Brasil deve voltar em 2011 a taxas de crescimento entre 4,5% e 5%.

O Brasil pode crescer 7% este ano, mas não acredito que esse ritmo se mantenha por vários anos afirmou Strauss-Kahn.

O diretor-gerente do FMI alertou que uma expansão da economia superior a 7% poderia provocar um superaquecimento da demanda interna, mas ponderou que o governo brasileiro está ciente desse risco e tem tomado medidas para evitar que isso aconteça.

Mais cedo, em palestra no VI Fórum Globonews Economia global no mundo pós-crise, o executivo do FMI fez elogios à política econômica brasileira, que, segundo ele, deve servir de lição aos países que estão passando por dificuldades na Europa, e pediu uma coordenação mundial como receita para sair da crise.

Embora diga que vê poucos riscos no cenário econômico brasileiro, Strauss-Kahn advertiu, no entanto, que as autoridades econômicas terão de continuar trabalhando para administrar as altas taxas de crescimento sem aumentar os índices de inflação. Segundo ele, é fundamental para o Brasil a continuidade da política fiscal e monetária para assegurar e manter o crescimento econômico.

O Brasil está indo muito bem em termos de políticas econômica e social. Mas a História tem mostrado que o sucesso não dura para sempre e pode ser destruído lembrou ele, que também elogiou o programa Bolsa Família do governo Lula.

Em seu último relatório de previsões, divulgado no mês passado, o FMI informou que espera crescimento de 5,5% para o Brasil neste ano, superior aos 4,2% projetados para a economia mundial.

Para FMI, emergentes estão no centro das atenções Com relação aos emergentes, incluindo Brasil, China e Índia, Strauss-Kahn disse que esses países estão no centro das atenções mundiais neste momento e que é esperado que alguns se tornem uma nova máquina do crescimento, baseados em inovação, tecnologia e novas ideias. De acordo com ele, os emergentes ganharam papel relevante nas soluções das crises econômicas e muitos têm hoje sua voz ouvida pelo FMI.

Acabou o tempo em que as decisões eram tomadas por uma minoria de países. Hoje, quando a diretoria se reúne para discutir problemas de algum país, todos participam e são ouvidos disse.

O diretor-gerente do FMI afirmou ainda que a América Latina não tem boas lembranças do FMI por causa das ações restritivas da entidade no combate às crises, mas salientou que as medidas pedidas pelo Fundo acabaram sendo acertadas.

Nós também aprendemos com as crises e com os erros do passado. Uma das lições é que temos que nos adaptar à realidade de cada país.