Título: Crise na Europa e tensão entre Coreias derrubam mercados globais
Autor: Villas Boas, Bruno
Fonte: O Globo, 26/05/2010, Economia, p. 24

Bolsa de SP cai 1,22% e dólar avança 0,21%, a R$ 1,868. Dow recua 0,23%

Os temores sobre a crise na Europa e o aumento das tensões entre as Coreias do Sul e do Norte derrubaram ontem os mercados globais. O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), chegou a operar abaixo dos 58 mil pontos, mas encerrou em queda de 1,22%, aos 59.184 pontos, acompanhando a melhora dos mercados americanos no fim do dia. O dólar comercial subiu 0,21%, a R$ 1,868. Pela manhã, chegou a ser negociado a R$ 1,917, uma alta de 2,84%.

Em Nova York, o índice Dow Jones fechou em queda de 0,23%, depois de cair 2,98% pela manhã, para menos dos 10 mil pontos. Nasdaq recuou 0,12%.

O euro teve queda de 0,3%, para US$ 1,2322, depois de atingir a mínima de US$ 1,2177. Analistas já falam em paridade do euro frente ao dólar em 2011.

A alta dos mercados americanos deveu-se a comentários do presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, Barney Frank. Ele disse que as restrições ao uso de derivativos pelos bancos, conforme proposta aprovada pelo Senado semana passada, iam longe demais, o que foi considerado um sinal de que a medida sairá do pacote.

Europa e Ásia não tiveram a mesma sorte. Londres caiu 2,5%, enquanto Frankfurt e Paris recuaram 2,3% e 2,9%, respectivamente.

Tóquio teve queda de 3,1%. Hong Kong caiu 3,47% e Xangai, 1,9%. Seul recuou 2,75%, depois que a Coreia do Norte rompeu relações com a do Sul.

Fusão de bancos espanhóis afeta papéis no Brasil Segundo João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos, a tensão entre os dois países aumenta a aversão a risco, principalmente por causa da proximidade com a China, cujo comércio poderia ser afetado: O Brasil tem um grande vínculo comercial com a China, como nas exportações de minério de ferro.

As ações da Vale PNA (preferenciais, sem direito a voto), chegaram a recuar 4,14% pela manhã, recuperando-se depois e fechando em alta de 1,01%. Os papéis PN da Petrobras caíram 2,21%.

Rodrigo Maciel, da consultoria Strapegus, especializada no mercado asiático, afirma que a Coreia do Sul responde por 3,5% da corrente comercial (exportações e importações) da China. Somente em exportações, no ano passado a Coreia do Sul embarcou US$ 62 bilhões para a China, entre equipamentos industriais e componentes elétricos.

O acordo de fusão entre quatro pequenos bancos espanhóis, anunciado segunda-feira, também afetou o mercado. No fim de semana, o Banco da Espanha (o BC do país) assumira o controle do banco católico CajaSur.

Segundo Hersz Ferman, da Yield Capital, a fusão evita uma crise maior, mas passa um sinal ruim sobre a situação bancária do continente: Um efeito claro é o aumento da taxa Libor (custo do empréstimos em dólar para três meses entre bancos). Ela subiu para o maior nível desde julho do ano passado. Isso significa que os bancos estão mais relutantes para emprestar dinheiro.

É a desconfiança entre um banco e outro.

No Ibovespa, a queda da ações foi generalizada. Fibria (4,82%), Usiminas (-4,12%) e Cesp (-4,08%) estiveram entre as maiores baixas. Também recuaram Bradesco (-4,08%), Banco do Brasil (-0,22%), Itaú Unibanco (-2,46%) e Santander (-5,56%).

Segundo Pedro Galdi, da SLW Corretora, isso é um movimento de pânico, pois os bancos brasileiros não estão expostos à dívida de países europeus.

Já as altas foram do setor imobiliário: Agre (2,99%), PDG Realty (2,42%) e MRV (1,94%).

Investidores estão apostando nesses papéis de olho em seu potencial de crescimento.

Itália aprova plano para reduzir seu déficit A Alemanha também preocupou os mercados ao anunciar que vai discutir semana que vem a ampliação da proibição de venda a descoberto de ações. De acordo com o Wall Street Journal, a suspensão se estenderia a todas as ações e títulos do governo negociados em bolsas alemãs. A primeira medida, anunciada semana passada, aplicava-se a títulos de governos e operações com derivativos como credit default swaps cuja negociação é praticamente restrita a Londres.

A Itália, por sua vez, aprovou ontem um plano de austeridade para reduzir seu déficit orçamentário em C 24 bilhões para os próximos dois anos.

Salários e contratações de servidores públicos serão congelados, e o repasse federal aos governos locais será reduzido.

O objetivo é reduzir o déficit orçamentário dos 5,3% registrados em 2009 para 2,7% do Porduto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), abaixo do teto de 3% da União Europeia (UE), até 2012. Os detalhes do plano serão divulgados hoje. Grécia, Espanha e Portugal já divulgaram pacotes semelhantes.

E o novo governo britânico de coalizão fez ontem seu primeiro pronunciamento no Parlamento com a presença da rainha Elizabeth II , além de divulgar a revisão para cima do PIB. A economia cresceu 0,3% no primeiro trimestre, acima do 0,2% divulgado inicialmente, em relação aos três meses imediatamente anteriores. A expansão está nos níveis registrados em 2006 e 2007, antes da crise financeira global.

Na véspera, o premier David Cameron havia anunciado cortes nos gastos públicos para diminuir o rombo fiscal do país.

Ontem, foi a vez da rainha: A primeira prioridade é reduzir o déficit e restaurar o crescimento econômico prometeu Elizabeth II.

Ela também apresentou 22 projetos de lei, incluindo um sobre reforma do sistema financeiro, que dá mais poder ao Banco da Inglaterra (o BC britânico).