Título: Candidatos defendem propostas que seus governos não tiraram do papel
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 26/05/2010, O País, p. 4

E as medidas são pedidas pelo empresariado há muitas eleições

No debate na Confederação Nacional da Indústria (CNI), os candidatos defenderam propostas que estão na agenda do empresariado há muitas eleições: reforma tributária, mais investimentos em infraestrutura, redução da carga de impostos, dos juros e melhoria da renda per capita.

Uma agenda que esteve nos programas dos últimos governos, dos quais José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva fizeram parte. Mas algumas dessas demandas nunca saíram do papel e outras avançam num ritmo aquém das necessidades do país.

A reforma tributária, apontada pela candidata do governo Lula, Dilma Rousseff, como a reforma das reformas está parada no Congresso. Não recebeu do governo impulso para sair do papel, nem completa nem por partes, como defendiam setores do empresariado. O tema é espinhoso, os interesses conflitantes pois não existe um modelo de reforma tributária em que todos ganhem e a oposição não facilitou a negociação.

Algumas propostas, como a desoneração da folha de salários, por exemplo, uma das maiores reivindicações da indústria, não avançaram porque envolviam renúncia fiscal. Na divisão do bolo de recursos federais, os aumentos para o funcionalismo público prevaleceram na escolha das prioridades. Ontem, Dilma disse o que os empresários queriam ouvir: Assumo compromisso com a reforma tributária afirmou, se comprometendo indiretamente com a desoneração da folha: Num determinado momento, o Tesouro Nacional vai ter de arcar com a diferença para não quebrar a Previdência.

Investimento baixo preocupa

Já Serra abordou pontos que os tucanos consideram vulneráveis no atual governo e são compartilhados por parte do empresariado: os investimentos federais, mesmo com o aumento expressivo da arrecadação nos últimos anos e com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), não ultrapassam a média de 2% do PIB, já computados os gastos das estatais.

Na visão do setor privado, este é um dos maiores gargalos que entravam o crescimento mais robusto e sustentado do país. Serra reforçou: (...) Somos o penúltimo país na taxa de investimento governamental.

Só perdemos para o Turcomenistão. Acho que são dados objetivos para raciocinar, discutir, sem questão políticopartidária, mas como questão de um governo, do país.

A agenda não é nova, e o governo anterior, pilotado pelo tucano Fernando Henrique, não tem muito o que mostrar. Os investimentos na era FH ficaram abaixo do atual patamar.

Outro tema do debate abordado por Serra e caro aos empresários foi a taxa de juros. Em relação a esse ponto, a indústria tem assumido um discurso tão crítico quanto o do candidato da oposição, e deve elevar mais o tom com a retomada da alta dos juros iniciada pelo Banco Central para conter a inflação.

No topo do ranking mundial, os juros no Brasil já foram mais altos e, por isso, o atual governo lança mão dessas estatísticas para defender o BC. A Selic (taxa básica de juros) hoje em 9,5% ao ano atingiu picos estratosféricos no governo anterior, de 85,4%, por conta de sucessivas crises econômicas mundiais.

Dilma, que não é uma entusiasta da política do BC, saiu pela tangente, dizendo que a taxa ainda é alta, mas demonstra redução.