Título: De aliados a desafetos
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Fonte: O Globo, 27/05/2010, O Mundo, p. 29

Ahmadinejad ameaça Moscou e critica o presidente Medvedev por apoio a sanções MOSCOU e TEERÃ

A crescente ameaça de novas sanções econômicas contra o Irã fez ontem o presidente Mahmoud Ahmadinejad abrir uma nova frente de batalha cujo alvo, desta vez, é sua vizinha e aliada estratégica: a Rússia. No maior confronto diplomático entre os dois países desde a Guerra Fria, Ahmadinejad classificou como inaceitável o apoio do Kremlin às sanções e não poupou críticas ao presidente russo, Dmitri Medvedev, a quem acusa de se curvar às pressões americanas. O tom duro foi recebido com indignação em Moscou.

O conselheiro de Política Externa do Kremlin, Sergei Prikhodko, classificou as declarações de Ahmadinejad como demagogia política.

Para a Rússia são inaceitáveis extremismo político, falta de transparência ou inconsistência na tomada de decisões que afetam toda a comunidade internacional afirmou Prikhodko, citado pela agência russa Itar Tass.

Ninguém nunca conseguiu preservar autoridade com demagogia política.

Nossa posição é russa, reflete o interesse de todas as pessoas da Rússia e, assim, não pode ser nem pró-americana nem pró-iraniana.

Não daremos nova chance a Obama

Numa visita à cidade de Kerman, na região central do Irã, Ahmadinejad exortou Medvedev a rever posições pouco simpáticas ao Irã. Segundo a agência Fars, falando ao líder do Kremlin, ele disse que ficou difícil justificar as posições russas.

A nação iraniana não sabe: os russos são amigos e vizinhos? Ficarão ao nosso lado ou estão em busca de outras coisas? Se eu fosse o presidente da Rússia, pensaria mais ao proferir comentários e tomar decisões sobre temas sobre a grande civilização iraniana ameaçou.

Paradoxalmente, o líder iraniano dirigiu-se ainda a seu maior inimigo: o presidente americano, Barack Obama, pedindo que os EUA aceitem, na íntegra, os termos do acordo firmado com Brasil e Turquia para viabilizar a troca do urânio iraniano por combustível nuclear: Há pessoas no mundo que querem opor o senhor Obama à nação iraniana e trazê-lo a um caminho sem volta, onde a estrada para sua amizade com o Irã será bloqueada para sempre. Obama deve saber que essa proposta é uma oportunidade única; que, se perdida, duvido que a nação iraniana dará uma nova chance a este cavalheiro no futuro.

O desentendimento entre russos e iranianos divide analistas. Enquanto alguns avaliam que a guerra de palavras com Moscou deixa o Irã cada vez mais isolado internacionalmente, outros apontam que as relações entre os dois países sempre foram marcadas por altos e baixos. Apesar de Teerã ser o maior parceiro comercial de Moscou no Oriente Médio tendo movimentado, no ano passado, US$ 3 bilhões, os dois países competem no mercado de gás internacional. Além disso, os iranianos ainda veem a Rússia com desconfiança. Em parte, pois, nos anos 80, auge da Guerra Fria e após a Revolução Islâmica, Teerã via a comunista Moscou como herege.

O acordo assinado por Teerã foi alvo ontem de comentário do premier da Turquia, Tayyip Erdogan, que participou de um encontro bilateral de empresários em São Paulo. Na primeira visita de um premier turco ao Brasil, Erdogan disse que a proposta é uma solução para o impasse nuclear com Teerã e que ambos os países têm papel importante para a paz mundial.

Brasil e Turquia assinaram, com sucesso, em parceria, (um acordo) num assunto que incomodava a comunidade internacional há tempo: o programa nuclear iraniano disse.