Título: Mantega: alta de 7,7% levaria a corte de gastos
Autor: Beck, Martha; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/05/2010, O País, p. 13

Ministro afirma que reajuste para aposentados ameaça equilíbrio fiscal. Sindicalista diz que veto dificultará vida de Dilma

BRASÍLIA. A equipe econômica aumentou a pressão para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vete o reajuste de 7,7% para aposentados e pensionistas que ganham mais de um salário mínimo aprovado pelo Congresso, ameaçando com novos cortes no Orçamento da União deste ano. Até agora, o governo anunciou uma redução de R$ 31,8 bilhões nas despesas de 2010 previstas no Orçamento.

Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que, se o índice de 7,7% não for vetado, ele vai propor um novo corte.

Se a decisão for por dar os 7,7%, minha recomendação é fazer uma nova redução nas despesas para manter o equilíbrio fiscal disse Mantega.

De outro lado, dos trabalhadores, vem a ameaça do deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP): se o presidente vetar o reajuste, será um desastre para a presidenciável do PT, Dilma Rousseff, que teria, então, muita dificuldade de deslanchar sua campanha entre os movimentos sociais.

Lula mandou aviso às centrais sindicais, garantindo que antes de tomar qualquer decisão vai conversar com os sindicalistas.

O recado foi repassado ao deputado Paulinho da Força, ontem à noite, pelo chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. Paulinho ouviu do governo que, apesar da tendência inicial de manter o reajuste aprovado pelos parlamentares, a pressão da equipe econômica está enorme.

Foi quando o deputado pedetista fez o alerta: Se Lula vetar o reajuste de 7,7% e for concedido um abono de 6%, será um desastre para a candidatura da Dilma. Isso é malandragem da equipe econômica, já que o abono não é incorporado ao salário. Um abono de R$ 30 não dá para o aposentado nem mesmo levar a patroa para jantar.

O governo propôs na medida provisória original, no fim de dezembro, um reajuste de 6,14% para aposentadorias e pensões acima do mínimo, mas os parlamentares elevaram o percentual. Por isso, a recomendação da Fazenda e do Ministério do Planejamento é que o presidente vete o aumento de 7,7% e edite uma medida provisória concedendo um abono de 6,14% sobre o valor dessas pensões e aposentadorias, para evitar que esses beneficiários fiquem sem qualquer reajuste.

O aumento aprovado pelo Congresso terá impacto de R$ 8,5 bilhões nos cofres da Previdência, R$ 1,5 bilhão acima do reajuste de 6,14% que já está sendo pago desde janeiro.

Embora a arrecadação venha batendo sucessivos recordes, o ministro da Fazenda ressaltou que é preciso ter cuidado com as contas públicas: Não temos condições de fazer esse reajuste