Título: Isto é promessa
Autor: Vasconcellos, Fábio; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 27/05/2010, O País, p. 3
Ao dar entrevistas a rádios, Serra, Dilma e Marina enumeram propostas para a segurança
Em entrevistas a rádios, os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV) voltaram a prometer mudanças profundas na política de segurança, apesar de isso também ter sido prometido pelos governos do qual fizeram parte. À Rádio Globo, Serra repetiu que, se eleito, criará o Ministério da Segurança, e chegou a afirmar que, se for o caso, poderá propor mudanças na Constituição para permitir que o governo federal assuma mais responsabilidades na área: Problema de segurança tem no Brasil inteiro. Nem que tenha que mudar a Constituição. O governo federal tem que entrar como corresponsável para defender as famílias. Hoje o governo federal fica meio alheio. O contrabando de armas e de drogas é a base do crime organizado no Brasil.
Aquele (caso do) helicóptero que foi derrubado, a arma que derrubou não era uma arma produzida aqui.
Serra acusa a Bolívia e ameniza
O tucano afirmou ainda que o governo da Bolívia é cúmplice do tráfico de drogas, que traz para o Brasil 90% da cocaína produzida no país.
O Rio não produz cocaína. O crack é o detrito da cocaína, é a parte mais vagabunda da cocaína. Mas 80% a 90% da cocaína vêm da Bolívia, com quem o governo amigo (numa ironia com o governo Lula), que se fala muito e etc. Você acha que a Bolívia ia exportar 80% a 90% de cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Quem tem de enfrentar essa questão é o governo federal.
Mais tarde, após a entrevista à Rádio Globo, Serra negou que a declaração possa causar incidente diplomático com a Bolívia: Eu não fiz acusação. Acho que é um problema de bom senso. Diz-se que 80% a 90% da cocaína que entram no Brasil são via Bolívia. Você acha que poderia entrar toda essa cocaína no Brasil sem que o governo boliviano fizesse pelo menos corpo mole? Não é uma acusação, é uma análise.
O pré-candidato afirmou que não considera difícil mudar a Constituição para que o governo federal assuma mais responsabilidade na área.
Acho que é fácil alterar a Constituição.
Tenho uma longa experiência legislativa.
Dilma fala em perpétua e ameniza
Já Dilma defendeu ontem o endurecimento penal contra pedófilos, em entrevista à rádio Record AM, em São Paulo. Ao ser perguntada por uma ouvinte da rádio, primeiro Dilma defendeu a prisão perpétua para pedófilos.
Depois recuou e disse que o importante é o cumprimento integral da pena, não o tempo de prisão a condenação máxima é de 30 anos no Brasil.
Eu concordo que talvez o maior crime dos crimes seja a pedofilia.
Além de ser uma agressão inominável, afeta um ser humano indefeso. Eu compartilho da sua revolta. Hoje já existem crimes inafiançáveis e que são objetos de pena maior. Concordo que, dependendo da gravidade deles, pode ser um crime passível de perpétua.
Tem que ver qual crime disse Dilma, respondendo a uma pergunta.
Depois de um intervalo comercial, a petista pediu para fazer um esclarecimento, e lembrou que, no Brasil, a lei limita a pena ao máximo de 30 anos de prisão: O que é sério no Brasil não é a questão da prisão perpétua. É se pessoas, como o pedófilo, vão ou não cumprir a pena e não serem liberadas no meio do caminho. Por qualquer quantidade de anos que a pessoa for condenada, o que importa é que, nos crimes graves, inafiançáveis, como é o caso da pedofilia, a pessoa cumpra pena integralmente.
Dilma também deu entrevista à rádio Tupi. Em ambas as entrevistas, ela apontou pontos fracos da gestão tucana de José Serra em São Paulo, sem citar o adversário. Dilma também apresentou propostas para melhorar o sistema de saúde e defendeu, em entrevistas às duas rádios paulistas, a desoneração dos remédios e a implantação de policlínicas do SUS, onde pacientes poderão realizar consultas com médicos especialistas. As duas ideias se assemelham às bandeiras históricas de Serra, seu adversário, durante a passagem dele pelo Ministério da Saúde e pelo governo de São Paulo.
A pré-campanha petista nega qualquer relação com programas tucanos e atribui os projetos a ações do governo federal e aliados.
Sobre os remédios, defendeu a redução dos tributos, sem especificar quais, para baratear o preço final ao consumidor.
Marina diz que não adianta puxadinho
Também em entrevista a uma rádio, a BandNews FM, Marina Silva defendeu ontem em São Paulo que as polícias Civil e Militar trabalhem de forma integrada. Mais uma vez, a senadora criticou as propostas de seus adversários para a segurança pública, embora não tenha citado nominalmente Serra, que defende a criação de um ministério para o setor: Não adianta ficar propondo puxadinho em cima de uma base que está completamente deteriorada.
Defendo uma reforma na segurança pública para termos uma segurança de qualidade, baseada no princípio de defesa da vida disse.