Título: Cautela nos cortes
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 19/06/2009, Economia, p. 11

Banco Central sinaliza que flexibilização dos juros continua, mas indica que a próxima redução pode ser inferior a um ponto percentual. No mercado, as apostas dos analistas são de baixa de 0,25 e 0,50 em julho

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que reduziu o juro básico da economia de 10,25% para 9,25% ao ano, indicou que as próximas decisões para calibragem da taxa Selic serão comedidas e analisadas sob a perspectiva de maior cautela. Essa tendência está sinalizada na ata das reuniões da semana passada que resultaram no corte de um ponto percentual na taxa, fazendo com que a economia brasileira passasse a conviver com juros de um dígito. Os próximos encontros do comitê ocorrerão em 21 e 22 de julho com indicativo de nova redução, mas possivelmente inferior a um ponto percentual.

¿A despeito de haver margem residual para um processo de flexibilização, a política monetária deve manter postura cautelosa, visando assegurar a convergência da inflação para a trajetória de metas¿, avaliou o BC. ¿O Copom entende, também, que a preservação de perspectivas inflacionárias benignas irá requerer que o comportamento do sistema financeiro e da economia sob um novo patamar de taxas de juros seja cuidadosamente monitorado ao longo do tempo¿, complementou.

Na ata, o BC indicou um dos motivos para que prevalecesse, por seis votos a dois, a opção pelo corte de um ponto percentual na taxa Selic. Segundo a autoridade monetária, o esfriamento do consumo provocado pela crise mundial reduziu a produção industrial, ampliou a ociosidade do parque fabril e diminuiu a pressão por aumento de preços. ¿Os sinais de substancial acomodação da demanda doméstica e de moderação de pressões sobre o mercado de fatores de produção, ainda que permaneçam sujeitos a incertezas, devem ensejar a redução do risco de repasse de pressões altistas sobre preços no ataco para os preços ao consumidor.¿ Para este ano, a meta de inflação é 4,5% com dois pontos percentuais de margem tanto para cima como para baixo.

Também no comunicado, o BC reduziu de 5% para 4,8% a projeção de reajuste do conjunto dos preços administrados para este ano. O documento manteve o cenário de reajuste zero para a gasolina e o botijão de gás, bem como de alta de 5% para os preços da telefonia fixa em 2009. Já para as tarifas de energia elétrica, a previsão passa de 6,3% feita em abril para 4,7% na análise mais recente. A despeito da previsão de menor pressão nos preços administrados e livres, o Banco Central reiterou que nas próximas decisões do Copom a flexibilização da política de juros ¿deverá ser implementada de maneira mais parcimoniosa¿.

Incertezas No pregão de ontem, o evento principal da Bovespa foi a ata que, apesar de indicar que o BC pode não manter o ritmo de corte de um ponto percentual, sinalizou que a flexibiliação continua. O ponto de incerteza é que os analistas não obtiveram um consenso sobre o que virá pela frente: alguns apostam em redução de 0,25 ponto na reunião de julho, outros, de 0,50 ponto. Ainda assim, a análise geral é de que a Bovespa seguirá beneficiada, já que a atratividade da renda fixa diminui com taxas de juros menores. A Bovespa possuiu ontem argumentos para se manter em alta: o Copom sinalizou continuidade da redução na Selic, as commodities subiram, os indicadores nos EUA melhoraram e as bolsas americanas avançaram. Ainda assim, a Bolsa brasileira oscilou, inverteu a posição e fechou em baixa de 0,28%. Nos EUA, a Bolsa de Nova York encerrou o pregão com alta de 0,69%.