Título: Taxa de desemprego recua a nível pré-crise
Autor: Setti, Rennan
Fonte: O Globo, 28/05/2010, Economia, p. 35
Desocupação em abril ficou em 7,3%, a menor para o mês desde 2002. Renda do trabalhador tem alta de 2,3%
Um dos termômetros do aquecimento econômico, o mercado de trabalho brasileiro se expande em ritmo pré-crise. A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), divulgada ontem pelo IBGE, mostra que abril teve a menor taxa de desocupação (7,3%) para o mês desde 2002, ano em que a série foi iniciada. Em abril de 2009, período marcado por turbulência global, o desemprego fora de 8,9%. Na comparação com março deste ano, a taxa caiu 0,3 ponto percentual (p.p.) - primeira queda em 2010. Antes de os efeitos da crise global atingirem o mercado de trabalho no país, o desemprego girava em torno de 7,5%.
A renda do trabalhador cresceu em abril. O ganho médio mensal foi de R$1.424,10, 2,3% maior do que um ano antes.
A desocupação ficou abaixo das já otimistas previsões do mercado, que apostavam numa taxa entre 7,5% e 7,7%.
- Uma diminuição da desocupação já era esperada para abril, que é quando a economia começa a se aquecer. Mesmo assim, a redução foi significativa, pois o desemprego já estava baixo. Isso mostra que o mercado de trabalho superou a estagnação de 2009 e apresenta desenvolvimento similar a 2008. Só que cria mais vagas e tem menor parcela de desocupados - afirmou o gerente da PME, Cimar Azeredo.
O aumento do emprego foi puxado por São Paulo, uma das seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE e que responde por 40% do resultado. Lá, em um ano, a desocupação caiu de 10,2% para 7,7%. Foram criados 335 mil postos de trabalho.
O Rio teve 5,9% de ocupação em sua população economicamente ativa, 0,5 p.p. menos que em março. Recife foi a única região cuja taxa de desemprego subiu no mês, de 8,1% para 9,1%.
Os números também mostram uma melhora qualitativa do trabalho. Os 704 mil postos com carteira assinada criados no setor privado em um ano representaram um aumento de 7,5%. Segundo Cimar Azeredo, essa é uma tendência impulsionada pela força da terceirização e das vagas na indústria. Os empregos com carteira já são 51,1% do total, um recorde histórico.
Além do aumento da renda média do trabalhador, a massa salarial também cresceu. A alta foi de 6,6%, atingindo R$31,4 bilhões. Esses sinais de aquecimento econômico deixaram o mercado em alerta.
Por causa da baixa desocupação, a LCA Consultores vê chances de uma maior elevação da taxa Selic pelo Banco Central. Felipe França, da ABC Brasil, também aposta em um aperto maior nos juros.
- O futuro é incerto devido à crise na Europa. Um agravamento pode reduzir o ritmo da produção brasileira e fazer com que o Banco Central desacelere o aumento da Selic - ressalva o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio.
Economista do Ipea prevê taxa abaixo de 7% este ano
Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, prevê que a retirada dos incentivos tributários (como a redução do IPI) vai ajudar a conter o ritmo de expansão do mercado de trabalho nos próximos meses. Para o analista, a desocupação média ficará abaixo de 7,6% em 2010.
- Os números do emprego foram muito favoráveis. A taxa de desocupação ainda é sustentável, e poderia baixar mais - afirmou Lauro Ramos, do Ipea, que aposta numa média anual de desocupação inferior a 7%.