Título: BID: queda de produtividade nos últimos 50 anos reduz renda no Brasil
Autor: Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 28/05/2010, Economia, p. 35

Estudo diz que reforma previdenciária pode ampliar PIB em até 2,5 pontos

Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que será divulgado hoje no Rio, aponta que a América Latina poderia ter o dobro da renda per capita se tivesse alta produtividade. Se ao menos a produtividade evoluísse do mesmo modo que a dos Estados Unidos nos últimos 50 anos - ou seja, se tivéssemos a mesma defasagem que há meio século - a renda per capita seria 54% superior à registrada hoje. Carmen Pagés, coordenadora do estudo, lembra que em 1960 a renda média per capita do latino americano era um quarto da americana: agora, equivale a um sexto dela.

- Economistas da região dizem que é preciso ampliar a poupança e o investimento para crescer. Isso é importante, mas com os recursos que já há na região a situação poderia ser bem melhor - disse, lembrando que o banco usou o conceito de produtividade de todos os fatores, ou seja, mão-de-obra, capital e maquinário, entre outros.

Os dados compilados pelo banco entre 1960 e 2005 mostram que apenas o Chile, na região, reduziu sua distância em relação à produtividade americana: cresceu 19%. No mesmo período, a produtividade brasileira ficou 2,5% menor, a argentina reduziu-se em 35% e a do México em 41%. Por outro lado, a produtividade chinesa cresceu 219% e a da Coreia do Sul em 40%.

- Há cerca de 20 anos foram realizados pactos sociais nos países para se obter a estabilidade macroeconômica. Agora é a hora de fazer um pacto pela produtividade e pelo crescimento.

Para Carmen, a situação é pior justamente no setor que possui maior peso nas economias: serviços. Além de quase não ter concorrência externa, o setor sofre com informalidade, baixo nível educacional, dificuldade no acesso a tecnologias e concentração de pequenas empresas.

- Empresas menores são menos produtivas. Os países precisam entender que há dois tipos de pequenas empresas: as inovadoras, ágeis, e a grande maioria, onde o empreendedorismo é questão de falta de opção, ou seja, devem ser tratadas do ponto de vista social - afirma.

Além disso, outros dois fatores afetam fortemente a produtividade na região e no Brasil: a elevada burocracia e o alto custo dos transportes. No Brasil, uma empresa gasta, por ano, 2.600 horas para pagar impostos, contra 453 na Argentina, 316 no Chile e 177 nos países desenvolvidos. No caso dos custos de logística, eles existem não apenas nas exportações, mas também na logística interna dos países.

Segundo Carmen, a chave para ampliar a produtividade é melhorar a infraestrutura e o nível educacional dos trabalhadores, aperfeiçoar o crédito e realizar a reforma tributária. Além disso, é preciso tornar os sistemas de proteção social universais e dissociados do pagamento dos salários - ou seja pago por todos os impostos e não apenas com receitas de tributos sobre salários. Em 2009, essas receitas somaram R$184,5 bilhões, para pagar pensões que atingiram R$228,2 bilhões.

se o Brasil fizesse uma reforma previdenciária que tirasse o peso das empresas formais, o país teria seu crescimento acrescido de algo entre 1,8 e 2,5 ponto percentual do PIB (conjunto de bens e serviços no país). O Brasil lidera a lista de maior peso de encargos em relação aos salários: 53,6%, seguido por Colômbia (53,5%) e Nicarágua (51,1%). No Chile, esse percentual é de 31,7% e no México em 36,4%.