Título: Rio pode ter epidemia no verão, diz ministério
Autor: Maltchik, Roberto; Portela, Marcelo
Fonte: O Globo, 31/05/2010, O País, p. 4

Governo federal alerta para retorno da dengue tipo 1, após dois anos com poucas vítimas

BRASÍLIA. Adormecido nos últimos dois verões, em comparação com a epidemia de 2008, o mosquito da dengue pode retornar com força ao Rio de Janeiro no fim deste ano. O alerta do Ministério da Saúde leva em conta o comportamento do vírus no país em 2010.

Responsável pela primeira epidemia do país, em 1986, o tipo 1 voltou com força, com milhares de vítimas nas regiões Norte, Centro-Oeste e em parte do Sudeste. Mas, enquanto Belo Horizonte e São Paulo já sofrem pela presença dessa variante, a cidade do Rio ficou de fora.

- Nossa análise aponta para o risco de tipo 1 no Rio de Janeiro, que não teve epidemia este ano - alerta o coordenador do Programa de Dengue do Ministério da Saúde, Giovanini Coelho.

Em 2010, foram identificados surtos de dengue tipo 1 em algumas cidades do interior do Rio: Tanguá, Porciúncula e Casimiro de Abreu. A Secretaria de Saúde se prepara para o pior.

- Existe um plano de contingência sendo estruturado. Nossa preocupação com o avanço sobre a região metropolitana é real. Nós já temos uma grande parcela da população imunizada para o tipo 2, a de 2008. Mas isso não ocorre com o tipo 1 - revela o superintendente de vigilância epidemiológica do estado, Alexandre Chieppe.

O plano é repetir a mobilização de agentes com a ajuda do Exército e do Corpo de Bombeiros, que entraram em ação para tentar frear a epidemia de 2008, quando 255.816 pessoas contraíram dengue no estado, com 140 mortos. Em 2009, o número de casos caiu para menos de 11 mil. Neste ano, diz a Secretaria de Saúde, 13 mil pessoas já contraíram a doença, com dez mortes confirmadas. O Nordeste do Brasil também corre o risco de nova epidemia de tipo 1 no verão.

Falta articulação entre áreas, diz coordenador

Além do histórico de ineficiência da estrutura urbana e da dificuldade para combater quatro tipos de vírus, com intensidade e ciclos de vida distintos, o ministério diz que a desarticulação entre setores dos governos e a falta de capacitação dos agentes agravam a situação.

- Muitas vezes, a saúde fica sozinha na história, como se o problema fosse só dela. Pesquisas apontam que a população conhece as medidas de prevenção, mas isso não se transforma em mudança de comportamento - diz Giovanini Coelho.

Em três estados - Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre -, o ministério vai capacitar agentes em junho. Nos últimos dez anos, segundo a pasta, o governo federal transferiu R$5,53 bilhões a estados e municípios para combate à dengue. O valor é 75% do total destinado ao Teto Financeiro de Vigilância em Saúde (TFVS), fundo criado para contratação de pessoal e manutenção e compra de equipamentos para prevenção à doença. Neste ano, o TFVS deve receber, até dezembro, R$810 milhões.