Título: Ban Ki-moon culpa Teerã por impasse na negociação
Autor: Eichenberg, Fernando; Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 28/05/2010, O Mundo, p. 39

Em Moscou, Sergei Lavrov responde a críticas e exige que Ahmadinejad pare com demagogias políticas

RIO e MOSCOU. Enquanto o Kremlin respondia ontem às críticas iranianas pelo apoio ao projeto de resolução contra Teerã no Conselho de Segurança, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, jogava sobre o Irã a responsabilidade pelo atual impasse nas negociações nucleares. Em visita ao Rio para participar do fórum Aliança das Civilizações, o secretário afirmou que a declaração de que Teerã continuará enriquecendo urânio a 20% mesmo depois de assinar o acordo com Brasil e Turquia causou sérias preocupações na comunidade internacional.

Em entrevista coletiva, Ban foi perguntado se mantinha o otimismo sobre o plano para o envio de urânio iraniano ao exterior. O secretário apenas reafirmou que esta iniciativa foi um importante passo rumo a uma solução negociada, voltando a elogiar os esforços diplomáticos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do premier turco, Recep Tayyip Erdogan.

- Se o Irã deixar claro que vai cooperar e responder às preocupações, atenuará esse processo - disse ele, referindo-se às pressões internacionais por sanções contra Teerã.

Ban afirmou que tem solicitado, repetidamente, que as autoridades iranianas garantam que o seu programa nuclear tem fins exclusivamente pacíficos. Além do tom de cobrança, ele sugeriu também que as potências devem dar uma chance ao Irã, afirmando que há duas abordagens para a questão: confiança e respeito às resoluções da ONU. O secretário-geral salientou que é necessário haver equilíbrio entre estes dois pontos.

- Espero, sinceramente, que o Irã continue a discutir com o P5+1 (membros permanentes do Conselho de Segurança e a Alemanha) - declarou Ban, classificando a questão como uma das maiores fontes de preocupação para a comunidade internacional.

Para o Kremlin, acordo será um avanço se for implementado

Em Moscou, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse que suas tentativas de resolver a crise nuclear caíram repetidamente em ouvidos surdos da República Islâmica. No maior confronto diplomático desde a Guerra Fria, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, criticou na quarta-feira o governo russo por, segundo ele, ceder às pressões dos Estados Unidos e concordar com as punições econômicas.

O presidente iraniano também fez um alerta ao presidente russo, Dmitri Medvedev, para que ele seja cauteloso ou corra o risco de ser visto como um inimigo do Irã. O Kremlin, por sua vez, respondeu dizendo ao iraniano que pare com a "demagogia política".

Questionado sobre as críticas, Lavrov afirmou que os comentários foram vistos como "emocionais". Num reforço à crescente impaciência de Moscou com o Irã, Lavrov acrescentou que líderes russos tentaram resolver a disputa, mas Teerã não respondeu adequadamente. Segundo ele, um acordo para troca de combustível entre Irã, Brasil e Turquia será um avanço importante se implementado.

- De fato, se for completamente implementado, isso vai... realmente criar pré-condições importantes para a melhora da atmosfera na retomada das negociações - afirmou.