Título: Eleições colombianas turbinadas pelos vices
Autor: Costa, Mariana Timóteo da
Fonte: O Globo, 28/05/2010, O Mundo, p. 40

Parceiros de chapa de Santos e de Mockus reforçam disputa, mas prometem linhas distintas

MOCKUS AO lado de seu vice, o pragmático Sérgio Fajardo (à esquerda)

SANTOS, DE família conservadora, e Garzón (à direita), líder sindical

BOGOTÁ. Tanto Juan Manuel Santos como Antanas Mockus sabem ¿ e declaram isso abertamente ¿ que a escolha de seus vices foi crucial para alavancar suas candidaturas às eleições presidenciais colombianas de domingo. Ao lado do líder sindical Angelino Garzón, Santos, integrante de umas das famílias mais tradicionais da Colômbia, se aproxima da classe trabalhadora e promete avançar na questão do emprego e dos direitos humanos.

Já a adesão do ex-prefeito de Medellín Sérgio Fajardo à chapa de Mockus ¿ o intelectual dono de uma fala mansa e um discurso por vezes considerado complexo demais para atingir as massas ¿ trouxe mais pragmatismo, popularidade e propostas para melhorar a educação à campanha do Partido Verde.

Em entrevista ao GLOBO, os dois candidatos a vice mostram como suas participações no governo serão distintas, e discutem seus principais projetos para o futuro do país.

Angelino Garzón, de 60 anos, foi presidente da Central Única dos Trabalhadores, deputado, ministro do Trabalho do governo de Andrés Pastrana (1998 a 2002) e governador do Vale do Cauca, cuja capital é Cáli ¿ a terceira maior cidade da Colômbia ¿ entre 2004 e 2007. Sem filiação partidária, tece elogios às políticas econômicas e de segurança da gestão de Álvaro Uribe, às quais sua chapa governista espera dar continuidade. Mas reconhece que é ¿preciso avançar na questão dos direitos humanos¿.

Promessa de mais transparência

A Colômbia ainda possui três milhões de refugiados em consequência de mais de 40 anos de guerra e foi durante o governo Uribe que surgiram escândalos como os falso-positivos ¿ militares acusados de assassinar civis no lugar de guerrilheiros para mostrar resultado.

Garzón diz que Santos tem um projeto muito bom para reinserir os refugiados na sociedade, ¿que passa pelo combate à pobreza e pela criação de 2,5 milhões de novos empregos¿.

¿ Sobre os falso-positivos, são anormalidades e abusos inaceitáveis que não podem mais ocorrer ¿ diz Garzón, lembrando que foi o próprio governo Uribe, do qual Santos fazia parte como ministro da Defesa, que denunciou o problema.

O matemático Sérgio Fajardo também defende a punição dos culpados e a colaboração da sociedade como fundamentais no combate ao problema. Mas acha que o envolvimento do governo Uribe e de outros políticos colombianos nos abusos aos direitos humanos e em outros escândalos de corrupção e clientelismo precisam ser ¿melhor investigados¿.

¿ Acho que nossa candidatura avançou muito por isso. A sociedade quer mais transparência, a política sendo realizada de forma mais honesta.

Matemático, 53 anos, este ex-prefeito é considerado o responsável pelo renascimento da segunda maior cidade do país, Medellín, entre 2003 e 2007. Construiu espaços públicos, teleféricos para as favelas, escolas. Reduziu drasticamente o índice de violência na cidade que até então era o berço do narcotráfico.

¿ Nossa política prevê uma combinação de pressão militar, com busca de cooperação com os países vizinhos e investimento de qualidade na educação porque, só assim, teremos mão de obra e cidadãos qualificados ¿ diz Fajardo.