Título: Pneus para mineração já têm fila de espera de 3 meses
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 04/06/2010, Economia, p. 21

Com retomada do setor, requerimentos para pesquisa mineral no país este ano devem superar em 25% os de 2009

A retomada do setor de mineração ¿ impulsionada pela recuperação dos preços internacionais e da demanda por minérios no Brasil e no exterior ¿ já tem reflexos sobre a cadeia produtiva. Na francesa Michelin, há fila de três meses por pneus com diâmetro entre 51 e 63 polegadas, usados em caminhões que trafegam nas minas. A gaúcha Agrale viu a produção de seus veículos Marruá, também usados na atividade extrativa, dobrar nos primeiros meses deste ano. E a fabricante finlandesa de equipamentos para processamento de minério Metso Minerals já prevê alta de 20% nas vendas em 2010.

Outro indicador que mostra a confiança das mineradoras na retomada do setor é o aumento do número de requerimentos de pesquisa, o primeiro passo da exploração mineral. Entre janeiro e abril deste ano, foram 5.059 pedidos, segundo o Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM). A estimativa do órgão é que eles passem de 20 mil em 2010, superando em 25% os 16.037 requerimentos de 2009, embora ainda abaixo dos 26.875 de 2008. Minério de ferro e ouro são os carros-chefes desse movimento de alta.

¿ Os preços das commodities metálicas subiram, incentivando investimento em pesquisa mineral.

Teremos mais contratações de geólogos e crescimento de produção ¿ diz Miguel Nery, diretor-geral do DNPM.

Faturamento do setor será recorde este ano, diz Ibram O principal fator responsável pelo novo fôlego à indústria da mineração é o apetite chinês por minério de ferro, insumo essencial à siderurgia. Em abril, a produção de aço do país foi de 55,4 milhões de toneladas métricas, segundo os últimos dados da Associação Mundial do Aço. O volume ¿ que é quase a metade da produção mundial no mês ¿ representa aumento de 27% em relação a abril de 2009 e recorde mensal de todos os tempos.

¿ A China é a locomotiva da economia mundial. O país pretende urbanizar 800 milhões de pessoas nos próximos 20 a 25 anos. São quatro ¿Brasis¿, o que elevará seu consumo de aço em progressão geométrica ¿ diz Paulo Camillo Penna, presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que prevê receita superior a US$ 30 bilhões para o setor este ano, acima do recorde de US$ 29 bilhões de 2008.

As projeções do Ibram não levam em consideração o segundo reajuste de preço do minério de ferro da Vale, de 30% a 35%, que entrará em vigor em julho, o que significa que o faturamento do setor pode ser ainda maior. Entre janeiro e a última quarta-feira, o preço médio do minério (com teor de ferro de 63,5%) alcançou US$ 148,81 no mercado spot (à vista) chinês, alta de 78% em relação à cotação média de 2009 (US$ 83,81), segundo dados da Bloomberg.

O mercado chinês é referência para a nova política de reajustes trimestrais da Vale.

Em abril, a mineradora elevou o preço de seu minério em 90%, o que tornou o produto o principal item de nossa pauta de exportações em maio, superando US$ 2 bilhões em vendas.

O crescimento acelerado do setor já enfrenta gargalos. A Michelin, uma das duas únicas fabricantes mundiais de pneus de mais de 60 polegadas para mineração, já está com a carteira de pedidos cheia até dezembro e fila de três meses para novas encomendas.

Esses pneus gigantes são fabricados em duas unidades do grupo, em Lexington (EUA) e Vitoria (Espanha). A concorrente é a americana Bridgestone.

¿ A retomada veio mais forte do que esperávamos. Infelizmente, não vamos conseguir atender a alguns clientes ¿ disse Gilson Santiago, diretor de pneus de engenharia civil, minas e terraplanagem para América do Sul da Michelin, que prevê alta de 10% da vendas de pneus de mineração este ano.

Procura por equipamentos pode demorar um pouco Para a Agrale, mais produção significa mais encomendas de carros para transporte de trabalhadores nas minas, os Marruás.

A produção desses veículos, que em 2009 era de 50 unidades mensais, está em cem por mês. Cerca de 25% do total vão para o setor de mineração.

¿ Considerando os pedidos até setembro, já batemos a meta de vendas do ano ¿ diz o diretor da área de veículos e marketing da Agrale, Ubirajara Choiri.

O segmento de bens de capital deve demorar um pouco mais para recuperar o fôlego, na avaliação de Claudio Trubbianelli, da Abimaq, associação que reúne fabricantes de equipamentos.

Mas a finlandesa Metso Minerals está otimista.

¿ Há forte sinalização de recuperação do mercado ¿ diz o diretor comercial de equipamentos para mineração da companhia, Eduardo Kubric.