Título: Para poupar água, mais térmicas
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 04/06/2010, Economia, p. 21

ONS manda triplicar geração de usinas termelétricas para preservar hidrelétricas Apartir de amanhã, o sistema elétrico brasileiro voltará a gerar mais energia de termelétricas ¿ mais poluente e com custo mais alto, que é repassado para as contas de luz dos consumidores. O presidente do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Hermes Chipp, disse ao GLOBO que a geração térmica vai ser quase triplicada, dos atuais 700 megawatts (MW) médios para 2 mil MW a partir de amanhã. Atualmente, o país consome em torno de 55 mil MW médios. A necessidade é avaliada diariamente pelo ONS, órgão controlado por empresas estatais e privadas que coordena a geração de energia do país. O uso das térmicas estava concentrado no Nordeste, mas agora servirá também para as Regiões Sudeste e Sul do país.

O executivo explicou que o aumento da geração de energia térmica é necessário para preservar o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas até novembro, quando termina o chamado período seco. Nos meses de seca, as chuvas são menos intensas nas nascentes dos rios e, com isso, o volume de água é menor, obrigando ao maior uso de água armazenada para girar as turbinas das usinas. No país, há térmicas movidas a gás, a carvão e a óleo combustível.

¿ Agora a geração térmica é necessária por segurança energética ¿ explicou.

Segundo Chipp, atualmente os reservatórios estão bem elevados. No entanto, é preciso preservá-los para chegarem em novembro nos níveis mínimos de segurança estipulados pelo ONS. No próximo dia 30 de novembro, o nível dos reservatórios na Região Nordeste deve ser de, no mínimo, 20% de sua capacidade de armazenamento, e na Região Sudeste o nível-meta é de 39%.

ONS defende construção de mais termelétricas

No mês passado, o ONS determinou o acionamento de usinas termelétricas por diversos períodos. Naquela ocasião o aumento foi determinado para garantir a segurança enquanto não eram concluídas as obras de reforço do sistema de transmissão da energia de Itaipu, quando foi reduzida a geração da usina. O objetivo foi evitar um apagão semelhante ao ocorrido em novembro do ano passado, quando saíram do sistema as três linhas de transmissão de Itaipu, deixando sem luz total ou parcialmente 18 estados do país.

Na última reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), no último dia 31 de maio, o governo decidiu que a hidrelétrica já poderia aumentar sua geração, considerando apenas a possibilidade de duas das três linhas saírem do sistema, sem risco de apagão. Com isso, a geração térmica foi reduzida na última semana.

¿ O objetivo da geração térmica é a segurança energética. Para a formação de estoques de segurança, para poupar os reservatórios, para chegarem nos níveis fixados e não termos problemas no próximo ano ¿ destacou Chipp.

O presidente do ONS defendeu a necessidade de o país planejar a construção de mais termelétricas, sejam a gás natural, a Gás Natural Liquefeito (GNL) ou até mesmo a carvão.

Novas térmicas são necessárias, segundo ele, para atender de forma complementar o consumo de energia nos próximos anos. O executivo disse estar preocupado pelo fato de o Plano Decenal do setor elétrico não prever novas térmicas no período de 2014 a 2018.

¿ O mercado está crescendo, ao mesmo tempo em que a capacidade de armazenar água não crescerá, uma vez que todas as novas e grandes usinas em construção são a fio d¿água, ou seja, sem reservatórios. Então vamos precisar cada vez mais de complementação térmica ¿ afirmou Chipp.

O presidente do ONS disse que, por exemplo, na Região Sul, seria necessária uma nova termelétrica, possivelmente a carvão, de pelo menos mil MW. No ano passado, o Sudeste transferiu cerca de 6 mil MW médios durante quatro meses para o Sul. Mas, para ele, essa operação é de risco, pois podem acontecer acidentes nas linhas.