Título: Um corte de F 80 bilhões
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Fonte: O Globo, 08/06/2010, Economia, p. 23

Alemanha anuncia demissão de 15 mil servidores e corte de 40 mil nas Forças Armadas BERLIM, LUXEMBURGO, NOVA YORK e RIO

O governo alemão anunciou ontem um pacote de austeridade, para reduzir os gastos em C 80 bilhões até 2014. A chanceler Angela Merkel afirmou que, como a maior economia da Europa, a Alemanha precisava dar o exemplo. Segundo a revista alemã ¿Der Spiegel¿, é o maior pacote desde a Segunda Guerra Mundial. O objetivo é manter o déficit alemão dentro dos limites impostos pela União Europeia (UE) até 2013. As principais medidas incluem demissão de funcionários públicos, criação de um imposto sobre viagens aéreas e cortes em benefícios sociais.

¿ Precisamos poupar cerca de C 80 bilhões até 2014 de modo que nossas finanças possam se sustentar no futuro ¿ afirmou Merkel em entrevista coletiva após a reunião de seu gabinete.

¿ Os últimos meses mostraram, com a Grécia e outros países, como é importante ter finanças sólidas.

Já no ano que vem os gastos serão reduzidos em C 11 bilhões. Depois serão de £ 19,1 bilhões em 2012 e £ 24,7 bilhões em 2013, chegando a £ 26,6 bilhões no ano seguinte. Com isso, o déficit, que este ano, devido às medidas de estímulo adotadas contra a crise financeira, deve atingir 5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), ficaria dentro do teto da UE, de 3% do PIB, até 2013.

As principais medidas incluem a demissão de 15 mil servidores públicos, de acordo com o jornal espanhol ¿El País¿. O Ministério da Defesa também vai analisar uma maneira de reduzir o número de pessoal nas Forças Armadas em 40 mil. Segundo o ¿New York Times¿, o ministro da pasta, Karl-Theodor zu Guttenberg, queria um corte maior, de 100 mil, para 150 mil soldados. Ele também defendia o fim do serviço militar obrigatório, mas este apenas passará de nove para seis meses

Zona do euro aprova fundo de F 440 bi

Também serão eliminados benefícios sociais, como a ajuda de custo para novos filhos e para aquecimento, além da redução dos pagamentos a quem estiver desempregado há mais de seis meses. A isenção concedida a empresas de um imposto ambiental também será suspensa.

¿ Estamos em tempos difíceis. Já não podemos nos permitir tudo aquilo que desejamos se quisermos construir o futuro ¿ disse Merkel.

Além disso, o governo vai reforçar seu caixa com novos impostos. Os passageiros de todos os voos saindo da Alemanha pagarão uma tarifa, que vai variar conforme o preço da passagem e o nível de ruído e consumo de combustível. As operadoras de usinas nucleares também pagarão imposto sobre seus lucros. Mas o governo descartou elevar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) Merkel admitiu que a Alemanha tem sofrido pressão internacional para gastar mais, a fim de estimular a demanda. O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, fez apelo nesse sentido durante a reunião de ministros de Finanças do G-20 (que reúne as principais economias industrializadas e emergentes) na Coreia do Sul, no fim de semana. A França também vem criticando a política econômica alemã, que, argumenta, pode prejudicar a recuperação nos 16 países da zona do euro.

O pacote ainda tem de ser aprovado pelo Parlamento alemão.

Analistas esperam que o governo da Hungria, que na sexta-feira abalou os mercados ao dizer que estava no mesmo caminho da Grécia, anuncie medidas de austeridade. Mas ontem o ministro da Economia, Gyorgy Matolcsy, afirmou que o país mantém o compromisso de manter seu déficit em 3,8% do PIB e que, no momento, isso não seria necessário. Em pronunciamento na televisão à noite, ele disse, porém, que o governo deve criar um imposto de 15% a 20% para as famílias, a partir de 2011.

Os temores sobre a Hungria foram minimizados pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, e por Jean-Claude Juncker, que preside o Eurogroup, dos ministros de Finanças da zona do euro.

¿ Não vejo qualquer problema com a Hungria. O único problema que vejo é que os políticos da Hungria falam demais ¿ disse Juncker.

O grupo assinou ontem a criação do Mecanismo de Estabilidade Financeira Europeia, para controlar a crise da dívida na região. Ele consiste em um fundo de C 440 bilhões, a ser usado para lastrear a venda de títulos de governos. Os recursos dessas operações serão usados para financiar países do bloco em dificuldade. O fundo estava previsto no pacote de C 750 bilhões criado pela UE há um mês, no auge da crise grega.

Bolsa cai 1,16% em NY e 3,8% em Tóquio

Mas os temores sobre a Hungria e os dados desapontadores de emprego nos Estados Unidos, divulgados na sexta-feira, levaram ontem o euro a US$ 1,1876, seu menor nível desde março de 2006. Depois a moeda se recuperou, fechando estável em Nova York, a US$ 1,1924. A Bolsa de Londres recuou 1,11%, e a de Frankfurt, 0,57%. Tóquio caiu 3,84%. Em Nova York: o índice Dow Jones recuou 1,16%, e o Nasdaq, 2%.

Já o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), recuou 0,80%, aos 61.182 pontos.

O dólar comercial subiu 1,02%, a R$ 1,878. Recuaram papéis ligados a commodities, como os preferenciais da Vale (PNA, sem direito a voto), com queda de 3,13%. Usiminas caiu 4,53% e Gerdau, 4,46%. Já as ações PN da Petrobras avançaram 0,92% com a perspectiva da votação no Senado, amanhã, do projeto de capitalização da companhia. (Bruno Villas Bôas, com agências internacionais)