Título: Ativistas rejeitam acordo e são cercados
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 05/06/2010, O Mundo, p. 25

Navio irlandês é interceptado por Marinha israelense a poucos quilômetros de Gaza

Os passageiros do barco irlandês Rachel Corrie, que planejam chegar hoje de manhã à Faixa de Gaza levando ajuda humanitária à região, recusaram o acordo costurado pelo Ministério do Exterior da Irlanda e pelo governo de Israel para evitar um novo confronto em alto-mar com o Exército israelense. O navio foi cercado por três navios da Marinha israelense às 5h50m de hoje (23h50m de ontem no Brasil) quando se encontrava a 55 quilômetros de Gaza. O jornal ¿Jerusalem Post¿ chegou a dizer que o navio havia sido abordado, mas a informação foi negada pelo Exército.

¿ Há dois navios de guerra atrás deles e um barco menor está se aproximando ¿ contou, de Chipre, Greta Berlin, fundadora da ONG Free Gaza, e uma das organizadoras da flotilha.

Essa foi a tentativa mais recente de furar o bloqueio a Gaza. Durante o dia, a Chancelaria irlandesa informara que o acerto feito com Israel determinava que o navio concordaria em desistir da rota e atracaria no porto de Ashdod.

Em troca, com a supervisão de diplomatas irlandeses, a carga seria inspecionada e repassada aos moradores de Gaza por terra, incluindo as 550 toneladas de cimento a bordo.

Mas o acordo não foi aceito pelos ativistas. A recusa frustrou a solução diplomática que Israel tentava costurar para evitar um novo embate marítimo, como o de segunda-feira, quando Israel interceptou navios de ajuda humanitária, o que resultou na morte de nove passageiros. A decisão fez com que o gabinete de segurança optasse pela interceptação do navio.

Enfático, o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, assegurou que Israel não deixaria que o navio chegasse ao destino.

¿ Vamos bloquear esse navio e também qualquer outro que tente desafiar a soberania israelense. Não há nenhuma chance que o Rachel Corrie chegue à costa de Gaza ¿ disse ele ao Canal 1 da TV local.

Durante todo o dia, a atenção se voltou para o Mar Mediterrâneo, onde navegava a pequena embarcação, com 70 metros de comprimento e 15 passageiros. Entre eles, a ganhadora do prêmio Nobel da Paz de 1976, a irlandesa Mairead Corrigan-McGuire.

Em entrevista à Associated Press, ela contou que os ativistas a bordo não ofereceriam resistência caso fossem interceptados pelos israelenses.

¿ Vamos nos sentar. Eles vão provavelmente nos prender. Mas não haverá resistência ¿ disse ela.

É a terceira jornada da qual ela participa para tentar furar o bloqueio econômico ao território palestino.

Na primeira tentativa, em 2008, o barco onde estava conseguiu chegar sem ser interceptado.

Mas na segunda, há dois meses, a embarcação foi rebocada pelos israelenses e Mairead, deportada de volta à Irlanda.

¿ Cinco barcos do movimento Free Gaza conseguiram chegar e temos muita esperança de que com apoio internacional, os israelenses vão mostrar sua humanidade e deixar que cheguemos a Gaza ¿ afirmou a ativista.

Originalmente, o Rachel Corrie também fazia parte da Flotilha da Liberdade, interceptada na segundafeira.

Mas, por problemas técnicos, a embarcação ficou para trás. Greta Berlin dissera ao GLOBO que a tensão era grande na embarcação.

¿ O nervosismo é inevitável, depois do que aconteceu com o Mavi Marmara ¿ contou Berlin.

Por volta das 20h (14h de Brasília), o barco alcançou a marca das 100 milhas (160 quilômetros) da costa de Israel ¿ ponto onde a Marinha israelense interceptou o Mavi Marmara.

¿ Sabemos que a qualquer momento pode haver uma abordagem.

Estamos cientes disso ¿ disse Greta, mais cedo, acentuando que, por problemas técnicos, tem enfrentado dificuldades em se comunicar com o barco pelo único telefone via satélite a bordo.

Os boatos acerca do navio se multiplicaram ontem devido às falhas de comunicação. Alguns diziam que o barco teria voltado para Dublin devido a mais problemas técnicos.

Com agências internacionais