Título: Cárdenas, Mauricio
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 10/06/2010, O Mundo, p. 37

'Decisão deixa Brasil isolado'

Para Mauricio Cárdenas, especialista em relações internacionais do Brookings Institution, de Washington, a aprovação de nova rodada de sanções contra o Irã deixou Brasil e Turquia isolados.

O GLOBO: Como o senhor vê as sanções ao Irã que foram aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU? MAURICIO CÁRDENAS: Essa decisão deixa um pouco isolada a posição de Brasil e Turquia, porque mostra que houve uma divisão em dois blocos. O Brasil e a Turquia aparecem como correndo à margem. Sobretudo, levandose em conta que no grupo a favor das sanções estão China e Rússia. Acredito que há duas mensagens importantes nisso. A primeira, indiscutivelmente, é a de que há uma preocupação muito grande com o Irã. Há mais perigos em relação ao Irã do que o Brasil e a Turquia estão dispostos a reconhecer.

E a rapidez com que foi dada a resposta é uma mensagem ao Brasil e à Turquia de crítica ao fato de que a comunidade internacional não atuou de maneira coordenada no interior do órgão mais legítimo de todos, que é o Conselho de Segurança da ONU.

O Brasil ainda tem condições de pleitear uma liderança nas questões internacionais? CÁRDENAS: O Brasil tem um novo papel hoje, e certamente será ouvido em muitos temas. Provavelmente, o tema do Irã não foi uma boa escolha. Acredito que em sua corrida por obter uma vaga permanente no Conselho de Segurança, a questão iraniana não vai ajudar. Mas isso tampouco é uma causa perdida.

Em sua estratégia, o Brasil terá de balancear, mostrando que pode exercer sua liderança para atingir alguns acordos pendentes em nível internacional, como a mudança do clima ou a Rodada de Doha. Assim poderá acumular mais argumentos para pleitear um posto de membro permanente no Conselho de Segurança.

Como o senhor vê as relações Brasil-EUA agora? CÁRDENAS: A relação não está em seu melhor momento, mas os dois necessitam um do outro, é uma questão pragmática. Brasil e EUA são aliados naturais. Passadas as eleições no Brasil, provavelmente a agenda entre os dois países terá uma reaproximação.

Tudo agora está afetado pelo clima eleitoral. (F.E.)