Título: Obama comemora e ainda quer diplomacia
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 10/06/2010, O Mundo, p. 37

Para Hillary Clinton, Brasil e Turquia votaram contra sanções para manter portas abertas com regime iraniano

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, comemorou ontem a aprovação de novas sanções contra o Irã como uma vitória estratégica de sua política externa.

Sem desprezar os esforços diplomáticos de Brasil e Turquia para levar Teerã de volta à mesa de negociações, Obama fez questão de lembrar que ¿o Irã continua tendo a oportunidade de seguir por diferentes e melhores caminhos¿.

O discurso foi reforçado pela secretária de Estado, Hillary Clinton: para ela, turcos e brasileiros ainda poderão influir nas discussões sobre o programa nuclear iraniano.

¿ Na atual abordagem diplomática ao Irã, acho que Turquia e Brasil vão continuar a desempenhar um papel importante ¿ afirmou Hillary, em visita à capital colombiana, Bogotá.

EUA esperam medidas unilaterais de outros países Para a secretária, os dois países talvez tenham votado contra as sanções para ¿manter as portas abertas¿ com o governo de Teerã. Hillary afirmou ainda acreditar no sucesso das novas restrições a bancos e empresas supostamente vinculados aos programa nuclear iraniano.

¿ Podemos, acreditamos, desacelerar e certamente interferir e tornar muito mais difícil para eles continuar o programa nuclear por meio dessas sanções ¿ disse ela, resoluta.

Na Casa Branca, após reunirse com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, Obama ressaltou a importância da aprovação das sanções.

¿ Hoje o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou esmagadoramente a favor de sancionar o Irã por seu contínuo fracasso em cumprir suas obrigações ¿ afirmou.

Num claro recado a Brasil e Turquia, os únicos países que votaram contra e insistiram na via diplomática contra o impasse, o presidente acrescentou: ¿ Essa resolução coloca em prática as mais duras sanções já enfrentadas pelo governo iraniano e envia uma mensagem inequívoca sobre o comprometimento da comunidade internacional em interromper a proliferação de armas nucleares.

Em Bruxelas, na Bélgica, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, afirmou que a resolução aprovada ontem dá base legal para que a União Europeia e outros países, de forma individual, adotem novas medidas para restringir que empresas comercializem gás e petróleo iranianos.

Num encontro com poucos jornalistas na Casa Branca, dois altos oficiais do governo americano afirmaram ontem ¿ em condição de anonimato ¿ que esse é um dos maiores objetivos de Washington: sublinhar uma ameaça às empresas que negociarem com o Irã, alertandoas de que qualquer investimento no setor energético iraniano pode significar um elo com o programa nuclear.

Indagado sobre a reação a uma eventual venda de etanol brasileiro para Teerã, um dos oficiais disse, contrariado: ¿ É um risco se o Brasil vender etanol para o Irã. Se você investir, pode acabar ajudando na proliferação (nuclear).

Os funcionários reafirmaram que Brasil e Turquia estavam conscientes de que as linhas do acerto firmado em Teerã, no mês passado, não estavam de acordo com as exigências dos EUA, de seus aliados ou mesmo da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A Casa Branca, no entanto, tentou evitar palavras mais duras em relação à atitude de Brasil e Turquia. A argumentação, igualmente sustentada pelo subsecretário de Assuntos Políticos do Departamento de Estado americano, William Burns, baseou-se na afirmação de que os países envolvidos tinham ¿diferentes táticas para alcançar os mesmos objetivos¿.

A decisão tomada pelo Conselho de Segurança também libera o caminho para que o Congresso dos EUA avance em sua intenção de reforçar sua própria legislação de sanções ao Irã. A ideia é aguardar a reunião da União Europeia ¿ que também tratará do tema no próximo dia 16, em Bruxelas ¿ para finalizar o debate, antes do recesso parlamentar, em 4 de julho