Título: Voto contrário quebra tradição brasileira na ONU
Autor: Francisco, Paulo
Fonte: O Globo, 10/06/2010, O Mundo, p. 38

Rejeição à posição da maioria pode prejudicar candidatura a vaga permanente no Conselho de Segurança

BRASÍLIA. Exercendo o décimo mandato como membro temporário do Conselho de Segurança da ONU, o Brasil, assim com as Nações Unidas, não tem registros de outra ocasião na qual o país votou contra uma resolução aprovada pelo grupo, formado por 15 países. Em 1999, durante a Guerra do Kosovo, a diplomacia brasileira também havia adotado a mesma atitude, mas, na ocasião, a resolução não teve os votos necessários para ser aprovada.

Se foi a primeira vez que o Brasil marcou forte posição contrária, por outro lado, já se absteve em 11 resoluções até hoje.

A rejeição às sanções aplicadas ontem contra o Irã, na avaliação de especialistas, aumentaria a dificuldade do país em alcançar um assento permanente no Conselho de Segurança, caso o processo de reforma estivesse em curso. Mas, a política externa do país não deve ser afetada de forma definitiva.

¿ Claro que essa decisão influencia, ainda mais por se tratar de um assunto envolvendo o Oriente Médio. O Brasil sai empatado desse jogo. Não ganha nem perde. Poderia ganhar se o acordo com o Irã fosse bem-sucedido ¿ afirma o professor de Relações Internacionais da UnB, Virgílio Arraes.

Essa reforma, no entanto, não tem prazo para ocorrer. O grupo mantém a mesma configuração desde 1945, após o fim da II Guerra Mundial. Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China são os únicos países que têm poder de veto. Todos detêm armas nucleares. Na melhor hipótese, a reforma ocorreria durante o aniversário de 70 anos da ONU, em 2015.

Para o embaixador Marcos Azambuja, do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o voto contrário pode até mesmo criar ¿contratempos¿ nas pretensões do Brasil de aumentar a sua participação na liderança de organismos internacionais ligados às Nações Unidas.

¿ Mais do que votar contra, o Brasil votou contra uma resolução com placar muito amplo, o que tem um significado especial. De toda forma, a reforma do Conselho de de Segurança não está no horizonte. Não há prazo para isso. Mas avalio que o país ficou isolado ao lado da Turquia e do Irã, e contra seus aliados históricos, como França e Estados Unidos.

O embaixador aposentado Rubens Barbosa vai na mesma direção. Para ele, o Brasil assumiu uma atitude de alto risco, apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que não esperava ganhar nada em troca ao entrar na negociação nuclear com o Irã.

¿ Se é assim, devemos acreditar na palavra do presidente. Avalio, no entanto, que todos os países fazem politica externa olhando para seus objetivos nacionais ¿ afirma.

Já o cientista politico Ricardo Caldas, da UnB, entende que o Brasil optou por uma política externa de independência, que, por enquanto, não tem força para apresentar resultados positivos.

¿ Quem manda nos grandes fóruns que interessam ao Brasil ainda são os Estados Unidos ¿ observa