Título: Importações em alta acendem alerta
Autor: Novo, Agnaldo
Fonte: O Globo, 10/06/2010, Economia, p. 32

PIB mostrou déficit nas contas externas subindo muito rapidamente

A divulgação dos grandes números da economia brasileira no início do ano, anteontem pelo IBGE, atestou o que já estava na conta dos analistas: o consumo doméstico está crescendo a taxas asiáticas. Parte dessa demanda, que subiu 12%, acima da alta recorde de 9% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), frente ao mesmo período de 2009, foi suprida pelas importações.

E é aí que mora o perigo, alertam os economistas. O déficit nas nossas contas com o resto do mundo está em 1,99% do PIB, ou US$ 36,2 bilhões em 12 meses até abril. No fim de 2007, essa mesma conta tinha superávit.

¿ Em um mês, o déficit subiu de 1,79% para 1,99% do PIB.

Nesse ritmo, no fim do ano estará em 3% e começa a preocupar ¿ afirma Luis Afonso Lima, diretorpresidente da Sociedade Brasileira de Estudo das Empresas Transnacionais (Sobeet).

Lima não vê problemas no patamar atual do déficit externo, de 2% do PIB. Os investimentos produtivos e as aplicações financeiras em Bolsa e em títulos do país financiam o déficit externo. Porém, se o déficit continuar subindo, essa disposição dos investidores estrangeiros em financiar o Brasil pode diminuir: ¿ A exigência de rendimento nos títulos fica maior e há mais dificuldades de vender os papéis brasileiros no mercado externo. E assim pode haver desvalorização forte do real.

Reajuste do minério de ferro vai aliviar déficit externo O alívio imediato vem do minério de ferro. O crescimento dos países emergentes, com destaque para a China, abriu espaço para um reajuste, pelas mineradoras, de 90% no preço dessa commodity, um dos principais itens da nossa pauta de exportação.

Com isso, o saldo da balança comercial aumenta, com mais dólares entrando no país e menos necessidade de recorrer à capital externo para financiar o crescimento do país.

A Sobeet estima agora que o país terá um déficit externo de US$ 40,8 bilhões este ano. O número foi revisto, de uma projeção anterior de US$ 50 bilhões.

Segundo Lima, o reajuste de 90% do preço do minério em abril e a nova alta já acertada de cerca de 30% na commodity a partir de julho motivou a revisão.

Alex Agostini, economistachefe da Austin, também refez as contas e agora prevê déficit externo de R$ 45,6 bilhões este ano, inferior aos R$ 47,2 bilhões estimados anteriormente: ¿ O minério de ferro tem sua participação, mas o principal motivo para a revisão foi a recuperação americana, nosso segundo maior parceiro comercial.

Mudamos nossa estimativa de saldo na balança comercial de R$ 11,3 bilhões para R$ 15,9 bilhões.

O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, alerta para o risco de se ficar à mercê dos humores dos investidores estrangeiros para fechar as contas do país. Qualquer turbulência no mundo pode afetar esse financiamento.

¿ Não existe almoço grátis.

É importante aumentar a poupança doméstica.

O professor da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda também está preocupado. Os riscos são de crise cambial ou de diminuição do parque industrial brasileiro (já que fica mais barato importar o produto pronto): ¿ São situações indesejáveis que poderiam ser resolvidas com o câmbio menos valorizado e taxa de juros mais compatível com a média internacional