Título: Ameaça nas profundezas
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Fonte: O Globo, 09/06/2010, Ciência, p. 38

Concentração de poluentes é até 10 mil vezes maior sob a superfície do Golfo

ÓLEO DO VAZAMENTO da plataforma da BP atinge área protegida da Baía de Barataria, no litoral do estado americano da Louisiana: estragos sob a superfície são piores

IMAGEM LIBERADA pela BP mostra que o vazamento continua, apesar da instalação de funil no poço. Ao lado, um ibis branco sujo de óleo

Apoluição causada pelo vazamento de petróleo e gás do poço da plataforma da British Petroleum (BP) Deepwater Horizon, que explodiu e afundou há 50 dias no Golfo do México, está se espalhando por meio de colunas bem abaixo da superfície do mar, o que representa um perigo ainda maior para a vida marinha na região, informaram ontem cientistas americanos.

Segundo Samantha Joye, da Universidade da Geórgia, as concentrações de metano da coluna que sai diretamente do poço são até 10 mil vezes maiores do que as normalmente encontradas, com consequências ainda não sabidas sobre a fauna local. Isso embora muitas partes do Golfo do México já sejam consideradas ¿zonas mortas¿ devido à poluição.

¿ É uma infusão de óleo e gás nunca vista antes, certamente não ao longo da História humana ¿ disse Joye, acrescentando que só esta coluna tem mais de 24 quilômetros de comprimento, 8 quilômetros de largura, 90 metros de altura em uma faixa que vai de 700 a 1,3 mil metros de profundidade.

Obama ¿chuta traseiros¿

Já o presidente dos EUA, Barack Obama, usou palavras duras para criticar a atuação da BP na resposta ao vazamento e, ao mesmo tempo, defender a sua. Em entrevista ao programa de TV da rede NBC ¿Today¿, exibido ontem, disse que demitiria sumariamente o presidente da empresa, Tony Hayward, se este trabalhasse para ele.

¿ Só falamos com este pessoal porque eles potencialmente têm as melhores soluções (para o vazamento), então sei o traseiro de quem chutar ¿ afirmou Obama.

Hayward foi convocado a testemunhar perante ao Congresso americano no próximo dia 17 sobre o papel da empresa na explosão da plataforma e o subsequente vazamento e vai comparecer, informou a BP. Segundo cálculos divulgados ontem, só na Flórida o vazamento deverá provocar o fechamento de 195 mil postos de trabalho e prejuízos da ordem de US$11 bilhões.

Outros testes realizados por pesquisadores da Universidade do Sul da Flórida indicam que as concentrações de compostos químicos relacionados ao petróleo na água do Golfo até estão relativamente baixas. O problema é que muitos compostos tóxicos que normalmente evaporariam em um derramamento na superfície estão se espalhando pelo oceano por baixo da água, pois a fonte do vazamento está no fundo do mar.

Os resultados dos testes parecem confirmar informações inicialmente divulgadas há três semanas de que tais poças de petróleo semi-disperso estão se espalhando sob a superfície por grandes distâncias no Golfo do México, algumas a até mais de 67 quilômetros do vazamento. Para piorar o cenário, bactérias estão consumindo alguns dos compostos químicos em um ritmo acelerado e assim reduzindo fortemente os níveis de oxigênio na água, embora ainda não a um ponto fatal para a vida marinha da região.

Por sua vez, a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (Noaa, na sigla em inglês), que ajudou a financiar o levantamento de Joye, demonstrou preocupação com as consequências ambientais desconhecidas do acidente sobre peixes, corais e outras formas de vida.

¿ Estamos fazendo o melhor que podemos para determinar para onde o óleo está indo, onde ele se encontra na superfície, onde ele pode estar debaixo d'água e que efeitos terá sobre as comunidades das cidades costeiras e a saúde do Golfo ¿ contou Jane Lubchenco, chefe da Noaa.

Dinheiro para recuperação

Enquanto isso, o almirante da Guarda Costeira dos EUA Thad W. Allen, comandante dos esforços de contenção do desastre, disse na manhã de ontem que o funil colocado sobre o poço conseguiu capturar 14.482 barris de óleo do vazamento nas 24 horas anteriores, elevando para 42,5 mil barris a quantidade total impedida de se espalhar pelo mar em quatro dias. Outros 30,6 milhões de metro cúbicos de gás foram queimados.

A BP informou que o dinheiro a ser arrecadado com a venda deste petróleo recuperado serão direcionados para um fundo dedicado à proteção do meio ambiente da região do Golfo, embora ainda não tenha uma previsão do volume destes recursos.