Título: Ahmadinejad lança advertência a Putin
Autor: Martins, Marília; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 09/06/2010, O Mundo, p. 36

Parlamento iraniano ameaça cortar elos com AIEA caso punição seja aprovada ISTAMBUL. Numa última tentativa de evitar a votação de novas sanções no Conselho de Segurança da ONU, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, reiterou ontem que o Acordo de Teerã ¿ mediado no mês passado por Brasil e Turquia para estabelecer regras para uma troca de combustível nuclear ¿ é uma oportunidade única para superar o impasse internacional acerca de seu programa nuclear. Em Istambul, na Turquia, onde participou da Conferência Regional de Cooperação e Criação de Confiança da Ásia (Cica, na sigla em inglês), Ahmadinejad voltou ainda a advertir a Rússia ¿ que já declarou seu apoio a mais uma rodada de sanções econômicas.

¿ Nós ainda esperamos que sejam capazes de aproveitar essa oportunidade, mas dizemos que essa oportunidade não será repetida.

Esperamos que o presidente Barack Obama dê início a uma nova política nos Estados Unidos. Não digo que estou totalmente desapontado, mas se eles fracassam, os primeiros a perder serão Obama e o povo dos EUA ¿ disse Ahmadinejad, usando um tom menos desafiador que o normal.

Depois de, nas últimas semanas, fazer duras críticas ao Kremlin pelo apoio russo às novas sanções econômicas contra seu país, Ahmadinejad advertiu a Rússia em seu discurso ¿ mesmo diante da presença do premier Vladimir Putin, que estava na plateia: ¿ Não há nenhum grande problema, mas eles (russos) devem ter cuidado para não se alinhar aos inimigos do povo iraniano ¿ alfinetou Ahmadinejad.

Teerã nega rumores sobre troca de presos com os Estados Unidos Putin tentou evitar o confronto direto com Ahmadinejad, mas acabou reunindo-se com ele a portas fechadas no fim do dia. Em seu discurso, preferiu um tom conciliatório ¿ afinal, apesar de apoiar as sanções ¿desde que não sejam excessivas¿, a Rússia inaugura em agosto uma usina nuclear na cidade costeira de Bushehr, no sudoeste iraniano, após um contrato assinado há 12 anos.

¿ Nós acreditamos que devemos, junto aos iranianos, acabar com todas as preocupações sobre a natureza de seu programa nuclear. A solução deve ser através de negociações construtivas, com a participação de todos os envolvidos e a observância dos interesses de cada um. Minha opinião é que uma resolução não deve colocar a liderança do Irã ou o povo iraniano em dificuldades ¿ afirmou Putin, segundo a agência RIA Novosti.

Não foram divulgados detalhes do encontro, mas, para analistas, a insistência de Ahmadinejad no encontro reservado com Putin foi apenas uma estratégia para pressionar a Casa Branca e levantar dúvidas sobre o real apoio russo à votação sobre as sanções, prevista para hoje.

Em Teerã, o presidente do Comitê de Segurança e Relações Exteriores do Majlis, o Parlamento iraniano, Alaeddin Boroujerdi, ameaçou cortar as ligações do país com Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) caso novas medidas punitivas sejam aprovadas.

¿ Vamos submeter à votação um projeto de lei reconsiderando a cooperação do país com a AIEA ¿ disse Boroujerdi à rede ¿Press TV¿.

Diante da expectativa pelas medidas restritivas, ontem, o Irã chamou ainda o embaixador suíço em Teerã para entregar supostas provas de que o cientista Shahram Amiri, desaparecido desde o ano passado, teria sido sequestrado pelos americanos durante uma peregrinação à Arábia Saudita. Havia especulações de que o governo do Irã libertaria os três americanos presos no país, Sarah Shourd, seu namorado Shane Bauer e Josh Fattal, em troca do cientista.

Mas as informações foram desmentidas.

¿ Os casos são incomparáveis. O Irã vai usar recursos legais para libertar Amiri ¿ afirmou o porta-voz da Chancelaria iraniana, Ramin Mehmanparast.