Título: Tecla SAP para Dilma e Serra
Autor: Martin, Isabela; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 09/06/2010, Economia, p. 31

Para petista, país estava afunhanhado em 2003. Investimento agregado preocupa tucano

DILMA afirmou que o governo Lula encontrou a economia "afunhanhada", quando assumiu em 2003. Já Serra recorreu ao economês para falar sobre a queda do "investimento agregado"

Leila Suwwan* e Silvia Amorim

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP). Opiniões distintas, vocábulos igualmente esquisitos. Os pré-candidatos à Presidência comentaram o desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre com termos exóticos ou empolados. Enquanto a petista Dilma Rousseff recorreu a expressões regionais como "afunhanhada" - palavra não registrada nos dicionários tradicionais que significa "fodida" ou "espremida" - e "periclitante" para descrever a situação do país em 2003, quando o presidente Lula assumiu o governo; o tucano José Serra lançou mão de conceitos para lá de complicados para minimizar o resultado recorde do PIB.

- Quando assumimos em 2003, o Brasil estava em uma situação, vou te falar, vou usar uma palavra bem feia: periclitante. Uma situação treme-treme. Estava afunhanhada, isso mesmo, tremelendo, tremilicando - disse Dilma em entrevista à rádio "Planeta Diário", de São José dos Campos, ao se referir à situação da economia herdada do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Embora viesse repetindo durante sua pré-campanha que prefere estimar o crescimento do PIB em 5,5% neste ano e nos próximos, a petista usou os bons números da economia no primeiro trimestre para ajustar suas projeções para até 7%.

Já Serra, que tem formação econômica, elogiou o resultado, mas, sem dar números ou explicações, disse estar preocupado com o fato de que o "investimento agregado ainda tenha caído e o desequilíbrio externo esteja galopando, pela aceleração das importações e pelo comportamento moderado das exportações". Serra também citou a fraca base de comparação de 2009, o que ajudou a expansão de 2,7%.

-- No ano passado, a economia ficou parada, declinou. Evidentemente a base do ano passado favorece um crescimento maior - afirmou Serra.

Pouco antes, ao ser perguntado sobre o fato de a alta de 9% (em comparação ao mesmo trimestre de 2009) do PIB ter sido recorde e a maior variação desde 1996, Serra disse estar "feliz" com o avanço.

- É bom que haja essa recuperação. Eu estou feliz - disse. - Evidentemente, a base do ano passado favorece um crescimento maior.

A ex-ministra petista, por sua vez, foi didática e não hesitou em usar a China como referência para a performance do crescimento brasileiro.

- Veja a notícia que acabou de sair, o Produto Interno Bruto. E o que é o PIB? É a economia, os empregos, enfim, todo mundo criando emprego. E está crescendo (a um ritmo de) 11%. Nem na China. Ou seja, são níveis que se vê hoje na China.

Em seguida, porém, conteve-se:

- É verdade que, até o fim do ano, as coisas vão para seus lugares e o crescimento vai ficar, na média, bastante elevado, em torno de 6,5% e 7%.

Além disso, Dilma voltou a criticar, sem citar nomes, a iniciativa também do governo anterior de mudar o nome da Petrobras para Petrobrax.

- Só quem não tem compromisso com o Brasil pode querer mudar isso - disse ela, que citou ainda uma suposta intenção de mudar o nome do Brasil para Brazil, com "z".

Mais tarde, em entrevista coletiva, Dilma disse que não saberia avaliar a necessidade de um novo aumento na taxa de juros, para conter a inflação.

- O Brasil está crescendo a uma taxa bastante elevada e esperamos que ocorra um ajuste mais para o fim do ano. Então esperemos que isso ocorra. Agora não tenho condição de fazer previsão sobre juros. Nem quando eu estava no governo fazia, imagina agora que eu não estou.

(*) Enviada especial