Título: Em busca do dinheiro perdido
Autor: Herdy, Thiago; Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 21/06/2009, Política, p. 6

MP de São Paulo se prepara para desenterrar um processo que pode revelar triangulação de recursos entre a Prefeitura de São Paulo e o instituto ligado ao PT na gestão de Marta Suplicy

Marta, que era prefeita à época dos contratos: ``Todas as contratações realizadas obedeceram rigorosamente às determinações legais``

Um processo sepultado há quase três anos na Justiça de São Paulo poderá ressuscitar na semana que vem e esclarecer onde foram parar R$ 12,8 milhões repassados pela prefeitura de São Paulo, na época administrada pela petista Marta Suplicy, às fundações Getulio Vargas (FGV) e de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), ligada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo o Ministério Público de São Paulo, as entidades de direito privado foram contratadas, sem licitação, para beneficiar pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT), por intermédio do Instituto Florestan Fernandes (IFF). Para os promotores, há indícios de que a triangulação tenha servido a um esquema de desvio de recursos públicos, que só teria estancado depois do início das investigações.

A ressurreição do processo depende do desembargador titular da 13ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, Antônio Carlos Malheiros, que prometeu julgar nesta semana o agravo de instrumento que mantém ou não a quebra dos sigilos fiscal e financeiro do IFF. O Ministério Público sempre quis ter acesso à documentação contábil com os pagamentos feitos a membros do Florestan Fernandes, fundado pelo diretório municipal do PT paulista, e aliados da prefeitura à época.

Para disfarçar um eventual benefício aos petistas, os secretários de Marta contrataram, pelo menos nove vezes, a Fundação Getulio Vargas (FGV), com dispensa de licitação. Por sua vez, a FGV chamou para realizar o serviço consultores ligados ao Florestan Fernandes. Um intermediário para viabilizar a triangulação também foi contratado em outro estado, igualmente com dispensa de licitação: a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), ligada à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

No fim de 2003, a instituição mineira foi contratada por R$ 1,2 milhão para ¿aperfeiçoar o atendimento prestado aos cidadãos pela Secretaria de Finanças¿ do município de São Paulo. Cinco dias depois, a Fundep subcontratou o Instituto Florestan Fernandes (IFF) para realizar o mesmo serviço, por R$ 405,8 mil. A proposta técnica apresentada pela Fundep à prefeitura mostra que a fundação sequer preocupou-se em disfarçar a artimanha. A reportagem teve acesso à lista dos 16 consultores elencados para executar o serviço. Pelo menos 12 eram membros do IFF ou ligados a ONGs petistas.

Só assim saberíamos como os R$ 12,8 milhões foram repartidos, na conta de quem foram depositados e no bolso de quem esse dinheiro todo foi parar

Saad Mazloum, promotor de Justiça