Título: Decisão do Lula virou imposição
Autor: Roxo, Sergio ; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 11/06/2010, O País, p. 12

Exigência de apoio a Hélio Costa em MG motiva saída de fundadora do partido ENTREVISTA

Militante histórica e uma das fundadoras do PT, a professora, advogada e cientista política Sandra Starling se desfiliou da legenda depois de mais de 30 anos de militância.

O motivo, diz ela, foi a imposição da Executiva Nacional de obrigar o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel a ceder a candidatura ao governo mineiro ao senador Hélio Costa (PMDB).

Marcelo Portela BELO HORIZONTE

O GLOBO: Por que a senhora resolveu deixar o partido que ajudou a fundar? SANDRA STARLING: Por causa da decisão da Executiva Nacional de considerar inexistente a prévia do PT mineiro para a escolha do candidato a governador. Participei da pré O GLOBO: Por que a senhora resolveu deixar o partido que ajudou a fundar? SANDRA STARLING: Por causa da decisão da Executiva Nacional de considerar inexistente a prévia do PT mineiro para a escolha do candidato a governador. Participei da prévia achando que era verdade.

A imposição da candidatura de Hélio Costa (PMDB) foi uma violência absurda e inaceitável contra os petistas.

Pretende se filiar novamente, como fez a Marina Silva? SANDRA: Não. Fiz parte do movimento pró-PT, participei da fundação do partido, fui a primeira candidata mulher ao governo de Minas, deputada estadual e deputada federal.

Deixo o PT com a dor de uma mãe que deixa um filho. Mas, agora, vale só o que Lula e sei lá mais quem querem.

Chegou a falar com Lula ou alguém da direção sobre esse problema? SANDRA: Estou muito entristecida com o que a direção fez, e principalmente com o Lula. Conheço-o muito, mas não falo mais com ele depois que virou presidente.

Lula não é Deus. Não pode impor sua vontade sobre todos.

E como sua decisão foi vista? Teve apoio de militantes? SANDRA: Tenho certeza de que muitos militantes pensam da mesma forma, mesmo que não deixem o partido. Estou recebendo solidariedade de todos os lados. E vejo também o desejo de repudiar veementemente o que foi feito em Minas Gerais. Não se constrói uma democracia e um país passando por cima da militância.

Por que a resistência à candidatura do PMDB? SANDRA: Hélio Costa não votou com o governo essa madrugada (no projeto dos royalties do petróleo). Os petistas em Minas tiveram que engolir sua candidatura, sem ele sequer ter compromisso com o governo.

Não estou falando que o projeto é bom ou ruim. Independentemente da proposta, o que se espera de um aliado é coerência e lealdade. Mas o PMDB não tem compromisso com as teses do PT. E o candidato foi imposto goela abaixo.

Esta atitude da executiva nacional pode dificultar a participação do ex-ministro Patrus Ananias na chapa para o governo de Minas? SANDRA: Tenho um profundo respeito pelo Patrus e jamais tentaria influenciá-lo a fazer ou deixar de fazer algo. Mas confio que ele não vai trair interesses sociais e vai agir da forma correta.

O PT pode ceder a candidatura em outros estados. Isso pode criar mais problemas? SANDRA: Eu esperava que Minas se levantasse contra a decisão.

Fazendo isso, daríamos força ao Maranhão, ao Paraná e a outros estados onde os petistas passam pela mesma questão.

Mas a decisão tomada na cabeça do Lula virou imposição. O que ele está fazendo no partido é caudilhismo e ditadura. Com a justificativa de permanecer na presidência. Mas permanecer na presidência é importante para melhorar as coisas que estão aí.

Não para piorar.