Título: Não defendo nem o modelo de concessão nem o de partilha
Autor:
Fonte: O Globo, 12/06/2010, Economia, p. 26

Afastado há dois anos e meio da Petrobras, quando trocou a diretoria de Gás e Energia pela exclusividade na Universidade de São Paulo (USP), Ildo Sauer vem acompanhando à distância as discussões sobre o pré sal. Contrário ao modelo de partilha adotado pelo governo, Sauer considera que o regime é, no entanto, mais avançado que o atual, de concessão. O ideal, defende, é que a Petrobras fosse apenas contratada pelo governo, como prestadora de serviço.

Liana Melo

O GLOBO: O acidente no Golfo do México envolvendo a BP expôs a indústria do petróleo. O senhor acha que a Petrobras está preparada para os desafios do pré-sal? ILDO SAUER: Ainda que não exista tecnologia infalível, a Petrobras tem a seu favor uma larga experiência. Desde que a empresa partiu para o primeiro grande campo, em 1974, evoluindo das águas quase rasas para as profundas, ela vem se preparando para se lançar no pré-sal. Os acidentes na Baía de Guanabara, no Rio Iguaçu e o afundamento da P36 levaram a Petrobras a investir em preservação. Mas o grande diferencial é sua baixa exposição à terceirização. É prematuro afirmar que o excesso de terceirização tenha sido a causa do acidente, mas é inquestionável que a BP é a campeã nesse quesito.

O governo fez de tudo para aprovar o marco regulatório do pré-sal. O senhor concorda com esse modelo? SAUER: O modelo só não é pior porque a Petrobras, que, inicialmente, esteve alijada do grupo de trabalho, conseguiu interferir na modelagem. Mas o modelo adotado está longe de ser ótimo.

Quais são suas divergências em relação ao modelo aprovado? SAUER: O governo deveria ter concluído primeiro o processo exploratório, furando poços de Santa Catarina até onde a mancha do pré-sal se estender.

Até hoje não se sabe qual é o tamanho da reserva: de 30 bilhões, 80 bilhões ou 300 bilhões de barris. Seu tamanho é fundamental para definir o modelo de regulação e produção.

Já a capitalização é a única forma de aumentar o controle da União na Petrobras.

Como assim? SAUER: O modelo de partilha (em que a União é sócia das empresas) é um avanço em relação ao modelo anterior, de concessão, mas está longe de ser perfeito.

E a questão dos royalties, que, se retirados dos estados produtores, vai criar um rombo nas contas do Rio de Janeiro? SAUER: É um debate esdrúxulo e pequeno. Os royalties foram uma espécie de cereja que colocaram no bolo e, agora, os governadores estão protagonizando uma discussão paroquial sobre o assunto. Toda a discussão está girando em torno de um percentual de 15%, e ninguém discute o que será feito com os 85% restantes da renda do petróleo.

Qual é sua proposta? SAUER: Não defendo nem o modelo de concessão nem o de partilha, defendo a realização de um plebiscito. Os estados que se dizem produtores não produzem nada, considerando que a reserva estimada do pré-sal está a 300 quilômetros da costa. A Petrobras não precisa de um sócio privado. A existência de uma reserva de pré-sal poderia financiar um plano nacional econômico e social, e a Petrobras deveria ser contratada no regime de prestação de serviço.